segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Tudo Pelo Poder 06

 Capítulo 6: Operação Tempestade no Deserto choca o velho trapaceiro; Jiang fica do lado da esquerda com cautela (1990- 1991)

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A guerra no Golfo Pérsico entre os Estados Unidos e o Iraque estourou um ano depois que Jiang se tornou secretário-geral do PCC. A vitória dos EUA na Operação Tempestade no Deserto levou Deng Xiaoping a reconsiderar a direção do desenvolvimento da China.

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Quando o Iraque invadiu o Kuwait em 2 de agosto de 1990, todo o território do Kuwait foi ocupado em apenas um dia. A invasão do Iraque desencadeou reações extremas na comunidade internacional. Os países ocidentais, liderados pelos EUA, realizaram uma ação militar, por meio de uma resolução das Nações Unidas, para conter a invasão do Iraque. Embora o ditador Saddam Hussein do Iraque fosse um bom amigo do Partido Comunista Chinês e o Iraque e a China tivessem uma relação estreita, a China estava isolada da comunidade internacional na época e não queria ofender os países ocidentais apoiando Saddam Hussein.

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Jiang Zemin se tornou secretário-geral por causa de sua participação no massacre na Praça Tiananmen contra os estudantes em 1989. Seus apelidos “Kericon” e “fanfarrão Jiang” denunciavam sua falta de competência em assuntos além de persuadir, se exibir e falar dos outros pelas costas. A Guerra do Golfo foi um verdadeiro teste para examinar quais dificuldades Jiang poderia resolver. 

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Ao enfrentar um desafio tão grande como esse, Jiang entrou em pânico e não soube o que fazer. Ele começou a sentir então que ocupar o cargo de Secretário-Geral nem sempre era agradável. Naquela época, os países ocidentais impuseram sanções econômicas diante do Massacre na Praça Tiananmen, e a China tinha pouco apoio internacional. Para escapar do dilema diplomático, Deng Xiaoping estabeleceu os princípios básicos da posição da China sobre a guerra, que eram, na verdade, “calar a boca e ficar longe”. Graças à ordem de Deng, Jiang não precisou tomar uma decisão. A China posteriormente se absteve na votação da ONU sobre a Guerra do Golfo. 

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1. Operação Tempestade no Deserto Em 17 de janeiro de 1991, as tropas da ONU lideradas pelas forças militares dos EUA lançaram a “Operação Tempestade no Deserto” contra o Iraque. Em poucas semanas, as tropas de Saddam Hussein sofreram pesadas baixas e perderam completamente o poder de revidar. O Iraque foi forçado a aceitar todas as 12 resoluções aprovadas pelas Nações Unidas desde a invasão do Kuwait pelo Iraque. As forças multinacionais da ONU pediram um cessar-fogo à meia-noite de 28 de fevereiro, marcando o fim da Guerra do Golfo de 42 dias.

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Durante a guerra, os jornais da China, que eram, e são, rigidamente controlados pelo Partido Comunista Chinês, cobriram extensas análises estratégicas afirmando que Saddam tinha uma boa chance, porque estava “do lado do povo” e que a guerra seria prolongada. Alguns até previram que as tropas americanas ficariam presas no Iraque, semelhante ao que aconteceu durante a Guerra do Vietnã. Para a surpresa da China, as forças multinacionais lideradas pelos EUA coordenaram suas tecnologias de satélite, aéreas e navais para permitir um ataque combinado em três frentes. O armamento avançado e a coordenação precisa impressionaram o mundo. 

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Unidades de inteligência dos EUA implantaram satélites de comunicação aeroespacial, satélites de uso civil e satélites de sensoriamento remoto para análise espectral para monitorar e decodificar as informações militares do Iraque e para tirar fotos infravermelhas de grandes altitudes. Os dados coletados foram então processados em supercomputadores para revelar totalmente a capacidade militar do Iraque. Os Estados Unidos também começaram a enviar ondas de interferência eletrônica poderosas seis horas antes de lançar o ataque, de modo a paralisar o sistema de comando do Iraque. O que apareceu nas telas de radar do Iraque foram flocos e manchas. Os caças stealth americanos encheram o céu de palha para criar rastros de aviões de guerra ilusórios nas telas de radar do Iraque, levando os mísseis terra-ar SAM-6 de Saddam a atacar “fantasmas”. As forças militares iraquianas rapidamente ficaram surdas e cegas.

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As vitórias das forças americanas com o mínimo de baixas ensinaram muito a Deng Xiaoping e chocaram o mais alto escalão do PCC. O clamor público também se seguiu, pedindo à China que armasse seus militares com armas de alta tecnologia. Jiang Zemin, que não tinha experiência militar, estava perdido e não sabia como responder. 

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Jiang estava apavorado, na verdade. Seu conhecimento das forças militares dos Estados Unidos e da China estava fora de sintonia com a época; seu conhecimento era mais o das guerras da Coreia e do Vietnã.

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Ele se lembrou do livro de Richard Nixon de 1999: Victory Without War (publicado em 1988). Jiang achava que a China comunista estava muito atrás dos Estados Unidos em termos de moral e força militar. Com as mudanças drásticas de regime na Europa Oriental, a Guerra Fria estava chegando ao fim. A onda de democracia estava se movendo para o leste e logo alcançaria a China, com apenas a União Soviética no meio. Diante da forte pressão para democratizar, o império vermelho liderado por Gorbachev parecia sujeito ao colapso a qualquer momento. Se os Estados Unidos continuassem com suas estratégias da Guerra Fria ou realizassem ataques militares, com seus sistemas políticos e econômicos muito admirados e armamento avançado, a autocracia de partido único da China seria derrubada. 

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Jiang se sentiu impotente ao pensar na situação do mundo. Ele enviou uma mensagem a seu filho Jiang Mianheng, que estava estudando nos Estados Unidos, informando que não havia necessidade dele apressar os estudos para se formar. Ele disse ao filho para encontrar um emprego e ficar nos Estados Unidos por mais alguns anos. Isso ocorreu em parte porque a posição de Jiang no governo central da China não estava totalmente consolidada na época, e em parte porque ele não tinha confiança no futuro do Partido Comunista Chinês. 

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2. Bajulação da União Soviética A partir da época do Massacre na Praça Tiananmen em 1989, os Estados Unidos, que lideravam o mundo em engenharia e integração de sistemas, impuseram um embargo de armas à China; a China tinha pouca experiência em engenharia e integração de sistemas. No entanto, não foi difícil para a China recrutar especialistas na área. Por exemplo, a economia lânguida da Rússia permitiu à China oportunidades de atrair profissionais russos por meio de moeda forte. Aproximadamente 1.500 cientistas e técnicos russos começaram a trabalhar como consultores para os militares da China na década de 1990.

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Sob o olhar atento de Deng Xiaoping e Yang Shangkun, Jiang Zemin, apesar de ser um leigo em assuntos militares, teve que demonstrar competência como Presidente da Comissão Militar Central. Ele anunciou planos de compra de sistemas de armamento de última geração da Rússia. Embora a China tenha gasto enormes somas de dinheiro para adquiri-los, todas as suas aquisições provaram ser armas obsoletas descarregadas pela ex-União Soviética, ou armas que funcionavam mal e que a Rússia estava despachando. Os aviões de guerra recebidos da Rússia falhavam com frequência. Depois que o PCC começou a comprar aviões de guerra soviéticos (incluindo Su-27s e Su-30s), nos anos entre 1997 e 2001 pelo menos cinco acidentes chegaram a ser reportados.

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O porta-aviões russo Kiev foi construído em 1975 e aposentou-se do serviço ativo em 1994. Jiang Zemin o comprou e deu as boasvindas no porto de Tianjin em setembro de 2000 como um tesouro inestimável. Fontes disseram que a China passou dois anos negociando a compra e obteve um empréstimo de 70 milhões de yuans (US$ 8,4 milhões) para financiar o porta-aviões aposentado. Os especialistas pensaram que poderiam obter informações técnicas examinando o Kiev. No entanto, eles perceberam que a Rússia havia se livrado de tudo que valesse a pena aprender. Houve um protesto entre os militares por terem sido enganados e eles apresentaram queixas a Deng e Yang. Jiang Zemin, que estava no comando do negócio desastrado, ficou ainda mais nervoso do que Deng e Yang. A presidência da Comissão Militar Central foi uma tarefa difícil para Jiang. O próprio Jiang uma vez descreveu isso como “pisar em gelo fino”. 

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A economia da União Soviética estava lenta na época. Ela estava usando força militar para suprimir pessoas em seus vários estados e enfrentava sérios problemas internos e internacionais. Para atualizar seu equipamento militar e mostrar apoio ao regime comunista soviético, a China em outubro de 1990 decidiu buscar cooperação militar com a União Soviética e comprar um lote de novos aviões de guerra da União Soviética. Em 25 de janeiro de 1991, o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da China disse a repórteres que Jiang faria uma visita de Estado à União Soviética em maio do mesmo ano. Jiang tornou-se o mais alto funcionário do governo chinês a visitar a União Soviética desde que Mao Tsé-tung compareceu às comemorações do 40º aniversário da “Revolução de Outubro” em Moscou em 1957. 

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Quando Jiang estava na União Soviética em 1991, Yeltsin, uma importante figura política para os reformistas, pediu para se encontrar com Jiang, mas o pedido foi recusado. Em vez disso, Jiang se encontrou com o vice-presidente da União Soviética, Gennady Yanayev, que era contra o programa de reformas, e disse a Yanayev que esperava que a União Soviética voltasse na direção do socialismo. Este evento refletiu claramente a postura esquerdista de Jiang contra a reforma. Três meses depois, Yanayev desempenhou um papel fundamental na tentativa de golpe político que colocou Gorbachev em prisão domiciliar. O golpe, que pretendia reverter a reforma e restaurar o controle centralizado das repúblicas por Moscou, fracassou após três dias.

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Para fortalecer as relações com a União Soviética e solidificar seu poder político, Jiang tentou agradar a União Soviética (e mais tarde a Rússia) a todo custo. Ele foi totalmente negligente quando se tratou da disputa de fronteira entre a China e a Rússia, e concordou com a proposta russa de inspecionar a fronteira. Por meio dos arranjos meticulosos da KGB, a ex-amante de Jiang apareceu. Jiang sabia, vendo isso, que a KGB tinha informações sobre todas as suas atividades no passado, então ele cedeu obedientemente aos termos da Rússia. Como resultado, um território disputado, 40 vezes o tamanho de Taiwan, foi secretamente cedido à Rússia.

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