segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Sagitario

9   Sagitário: - A busca da sabedoria

Todos os anos, em torno do dia 20 de novembro, todos os que vivem na zona temperada assistem à entrada do Sol em Sagitário. Para o astrólogo, este período de 30 dias é um interstício alegre, otimista, prazenteiro entre dois dos signos mais circunspectos, compenetrados e denodados do zodíaco - Escorpião e Capricórnio. Sempre interpretei como uma sincronicidade perfeita o fato de que o Dia de Ação de Graças nos Estados Unidos seja comemorado em Sagitário. Celebramos nossa gratidão por estarmos vivos, felizes e saudáveis ao mesmo tempo que com nossos amigos e familiares lembramos as dádivas recebidas. Este alegre festival, festejado com fartura de comida, está em perfeita consonância com o espírito do Zeus Todo-poderoso, ou Júpiter, como os romanos o chamavam, o regente de Sagitário. Fosse convidado a um lar americano, Zeus iria deleitar-se com os abundantes manjares do Dia de Ação de Graças.

Em nossa jornada arquetípica em torno do zodíaco, quando chegamos ao nono signo e à Nona Casa acabamos de emergir das águas densas e pantanosas do Inconsciente Escorpiônico, depois de enfrentar nosso medo da morte e de perscrutar as profundezas do sentimento e da emoção. Agora, em Sagitário, de novo nos aquecemos sob os raios de um signo de Fogo solar e mais uma vez somos envolvidos pela energia consciente e extrovertida. Tradicionalmente, os astrólogos associam Sagitário ao Espírito, à expansão da consciência, ao anseio pela grandeza e à habilidade de motivar, inspirar ou "incendiar" as pessoas. Essas excelsas associações se aplicam não apenas aos indivíduos nascidos no signo, mas também às pessoas com planetas na 9ª Casa. A inspiração é oferecida por profissões da 9ª Casa tais como magistério superior, literatura e ministério espiritual. As empresas de publicidade e propaganda também realizam o trabalho do arquétipo sagitariano pela disseminação da informação e às vezes, espera-se, também da sabedoria. Agentes de vendas motivados chegam a ter o zelo de ministros quando estão no auge da carreira, e eles também participam do arquétipo da 9ª Casa. Entretanto, na minha experiência com clientes, pude observar que o interesse principal do arquétipo se concentra na filosofia moral prática e na ética. A lei, por exemplo, campo importante da 9ª Casa, requer a aplicação prática da ética a casos concretos.

Há uma alegria intrínseca em Sagitário. É algo muito semelhante ao estágio da alquimia, em que o trabalho pesado está concluído e então surge a satisfação do crescimento espontâneo. No seu livro Alchemy,1 Marie-Louise von Franz fala do choque de forças inconscientes e conscientes seguido de uma bonança que ela compara, como uma fase na alquimia, a uma criança brincando num bonito jardim. Muitos que participam do arquétipo sagitariano através do Sol, do ascendente ou de Júpiter proeminente no horóscopo abordam a vida de uma maneira jocosa e, porque têm expectativa de que boas coisas lhes aconteçam, tendem a atrair muitas experiências positivas no decurso da existência. O que o nono signo experimenta é muito parecido com a imagem de crianças brincando no jardim paradisíaco depois do duro trabalho do estágio de Escorpião ou da descida ao Inconsciente.

O número nove simboliza a plenitude, a perfeição, a pureza de pensamento. O nono signo se parece com o ápice do processo alquímico, o arremate, a conclusão do trabalho que von Franz cita do alquimista árabe conhecido por "Sênior", qual seja, "lavar as sete estrelas nove vezes", ou até que figurem totalmente sem manchas, perfeitamente limpas e cintilantes em sua pureza. As sete estrelas representam o horóscopo no seu todo. O Sol, a Lua e os cinco planetas, de Mercúrio a Saturno, eram conhecidos coletivamente como as sete estrelas e, junto com seus Aspectos, Signos e posições de Casa incluíam a personalidade individual. Durante seu processo alquímico, o conquistador das sete estrelas havia obtido o domínio sobre seus instintos, frustrações, desejos, maus hábitos e outros obstáculos à realização do Espírito. Ficava faltando apenas a limpeza final, o polimento, a nônupla purificação. Este estágio da alquimia sempre me vem à mente quando um cliente com um stellium em Sagitário me fala de seu sonho pleno de felicidade e de grandiosidade e de como é fácil tornar esse sonho em realidade. Talvez possa ser - para ele(a). Talvez ele(a) já tenha terminado sua longa jornada pelos oito primeiros signos e tenha chegado no fim do processo - o processo de limpeza e polimento.

Quando o árabe "Sênior" fala do número nove simbolicamente em termos de perfeição e plenitude, ou término, ele está de acordo com os escritores esotéricos da Grécia e da índia. O número nove é um número-ápice para os pitagóricos e os gregos referiam-se à totalidade dos Deuses Olímpicos reunidos em assembléia com os Nove - a Enéade. O Navamsa (nove, em sânscrito) ainda identifica a plenitude e a perfeição na índia. Quando um astrólogo procura um parceiro de vida para um determinado mapa natal ou quando alguém procura saber qual é seu trabalho interior ou sua missão na vida, o círculo é dividido por nove e os graus planetários são agrupados numa relação angular de 40 graus de um com relação ao outro para determinar o mapa da plenitude ou da perfeição. Os gregos tinham nove Musas e os cristãos tinham nove coros de anjos postados próximos à perfeição - a unidade da Divindade.
O glifo deste arquétipo é a flecha (l). A frase "direto como uma flecha" talvez descreva a mais importante palavra-chave que os alunos novatos de astrologia aprendem de Sagitário - linguagem incisiva e direta. Como a flecha, essa linguagem direta em geral é aguçada. Às vezes ela é engraçada no sentido de "gafe" e às vezes ela de fato atinge o alvo.

Uma observação impensada que me vem à memória é a saudação de uma convidada sagitariana ao abraçar sua anfitriã a quem não via há vários anos: "Que bom vê-la novamente, Marta, e, meu Deus, como você engordou!" Mas a flecha pode também ser portadora da intenção de magoar, especialmente se planetas sagitarianos estão acompanhados por alguns planetas Escorpião malévolos num horóscopo individual. Nenhum mapa é um arquétipo puro. Cada personalidade é uma mistura de energias diversas. Assim, um sagitariano cujo Hermes/Mercúrio ou planeta comunicador está em Escorpião pode banhar sua flecha no veneno da Serpente.

Além de identificar o estilo de comunicação sagitariano, porém, a expressão "direto como uma flecha" tem outro importante sentido. Uma pessoa que é direta conosco é sincera, honesta, confiável. Sabemos que é alguém que mantém suas promessas. A despeito das circunstâncias, sua palavra é uma só. Este é o arquétipo puro. Embora Sagitário espere esse comportamento de outras pessoas e procure ele próprio viver de acordo com o código, sua flecha muitas vezes não atinge o alvo. Com muita freqüência suas promessas não são mantidas dentro do espírito generoso em que foram concebidas porque sua energia é demasiadamente dispersa e difusa; ele se inscreveu em muitos projetos mas não consegue terminá-los todos. Este é o motivo por que os mitos sobre a arte do manejo do arco se aplicam tão bem a Sagitário. Este arquétipo precisa praticar a concentração e centrar-se antes de disparar suas setas ou de fazer suas promessas.

Na Grécia e na índia antigas e no tradicional Japão, a arte do manejo do arco era uma importante disciplina psicológica e espiritual. O aluno desenvolvia a paciência e a presença de espírito, mas, mais do que isso, ele(a) aprendia a fluir com a ação - o processo de liberar a flecha na direção do alvo. No movimento de liberar a flecha, a mente e o corpo do arqueiro formavam uma unidade com o arco, a flecha, o movimento e o alvo. Nos tempos antigos, portanto, a mestria da arte do manejo do arco era um tipo de autodomínio. O herdeiro ao trono que era também o vencedor da competição de arcos, o Mestre, era considerado digno de presidir o reino. Arjuna, no épico hindu, o Mahabharata, e Ulisses, na Odisséia grega, eram dois reis arqueiros desse quilate. Mesmo nos dias atuais, Eugen Herrigel, autor de Zen and the Art of Archery1, passou quatro anos no Japão neste caminho rumo ao autodomínio. Os anos que Herrigel permaneceu no Japão lhe possibilitaram a compreensão da doutrina sagrada da arte do manejo do arco, experiência essa partilhada por um número bem reduzido de ocidentais privilegiados. Uma citação de seu Mestre zen lança luz sobre a técnica:

"Suas flechas não atingem o alvo porque não percorrem grandes distâncias espiritualmente. Você deve agir como se o alvo estivesse a uma distância infinita. Para os mestres-arqueiros, é fato comprovado pela experiência quotidiana que um bom arqueiro, com um arco de potência média, é capaz de um tiro mais longo do que um outro que, apesar de manejar um arco mais potente, é desprovido de espiritualidade. Portanto, o tiro não depende do arco, mas da presença de espírito, da vitalidade e da atenção com que você dispara. Para desencadear a energia plena dessa atenção espiritual, você deve realizar a cerimônia de modo diferente de como a vem praticando até o momento: ela deve ser semelhante à dança executada por um dançarino verdadeiro. Assim fazendo, seus movimentos partirão do centro, do ponto preciso da correta respiração. Então, a cerimônia, em vez de processar-se como algo aprendido de cor, parecerá criada pela inspiração do momento, de maneira tal que dança e dançarino se constituam numa única e mesma coisa. Executando o ritual como uma dança sagrada, sua percepção espiritual desenvolverá sua energia plena!"
Assim sendo, a habilidade de manejar o arco é ao mesmo tempo uma ciência e uma forma de arte. Ela é mental e também ativa, do mesmo modo que Sagitário é Mutável e fogoso. O Mestre diz que a meta do arqueiro deve ser vista como longínqua ou infinitamente distante. É preferível inicialmente ultrapassar o alvo a repetidamente ver que suas setas não chegam até ele - isso é muito desestimulante.

Com sua crença confiante na grandeza futura e na meta maior, Sagitário é um bom exemplo de visão e inspiração para o signo da polaridade, Gêmeos, e para o signo da quadratura, Virgem. Ambos esses arquétipos regidos por Hermes tendem a ser míopes em comparação com Sagitário; eles se envolvem com os detalhes de sua habilidade e com demasiada freqüência não fazem a passagem dessa perícia para a criatividade, impedindo-se assim de desfrutar a inspiração do momento, de dançar a dança solta e de ardorosamente tornarem-se um com a ação. Os signos regidos por Hermes tendem a preocupar-se muito com a possibilidade de cometerem um erro, enquanto Sagitário é capaz de relaxar, como o mestre zen incentivou o arqueiro a fazer e a sentir prazer com o processo. Muitos clientes Sagitário, empregando o vocabulário do arqueiro, me disseram, "Bem, a idéia não funcionou, mas eu tentei o máximo, e agora vou esquecer tudo e dedicar-me ao próximo alvo." A maioria das pessoas de Virgem e de Gêmeos seriam muito felizes se se dispusessem a deixar de lado os problemas e a avançar com decisão em vez de ficarem indefinidamente remoendo sobre as imperfeições do plano.

A arte do manejo do arco também inclui algumas modificações na visão teleobjetiva da realidade por parte de Sagitário. Esporadicamente, há necessidade de assestar a lente precisa e cuidadosa de Virgem/Gêmeos, de mirar o alvo. Esta é a lição que devia aprender o entusiasta e ativo Arjuna, o jovem herdeiro ao trono descrito no épico hindu. Sua visão dispersa do quadro geral precisa de foco. O príncipe Arjuna e seus quatro irmãos mais novos suplicaram ao sábio brâmane Drona, o Mestre no manejo do arco, que os aceitassem como alunos. Drona, entretanto, era um velho que considerava o tempo algo de muito valor; há muito que ele não acolhia jovens da nobreza como discípulos. Por isso, os irmãos tinham que qualificar-se como candidatos por meio de um teste pelo qual cada um pegava o arco, adotava uma posição específica e respondia a suas perguntas.

O mais jovem empunhou o arco e se concentrou. Drona perguntou-lhe, "O que você vê?" Ele respondeu, "Vejo a montanha do outro lado do vale, o céu, as árvores e um pássaro no topo de uma árvore." "Não", disse Drona, "você não passa. Afaste-se." O segundo irmão tomou seu lugar com o arco. "O que você vê?", perguntou o Mestre. "Vejo o céu, a montanha, uma árvore, um pássaro no seu ramo principal e vós, Mestre, pelo canto do olho." "Sinto muito", disse Drona, "você também não passa. O próximo!" O terceiro irmão disse, "Mestre, não posso vê-lo, mas ouço sua voz; vejo apenas a árvore, seu tronco e o pássaro." "Desça", disse o brâmane, "pois você também está reprovado." O quarto irmão via somente o tronco e o pássaro, mas também ele, como os demais, não teve êxito. Finalmente Arjuna, tendo observado a concentração e foco dispersos de seus irmãos mais jovens, tomou sua posição e pegou o arco. "O que você vê?", perguntou Drona. "Vejo apenas o pássaro, Mestre", disse Arjuna. "Olhe novamente; concentre-se mais", disse-lhe o mestre. "Ah! Vejo somente um ponto no centro da testa do pássaro!" "Muito bem. Solte a flecha. Você será meu aluno!", disse o Mestre.

Assim, a visão a distância, que surge naturalmente para Sagitário, deve ser temperada com a lente corretiva da precisão e foco de Hermes - a concentração. Tanto a visão telescópica quanto a microscópica devem operar simultaneamente na Arte do Manejo do Arco, ou como os Mestres japoneses a denominam - a Doutrina Sagrada. Esta é uma chave importante para a integração das Casas Três e Nove, ou, como eram conhecidas nos manuais antigos, as mentes inferior (factual, técnica) e a superior (abstrata).
Minha experiência revela que um dos aspectos mais importantes do Caminho Sagitariano é a educação. O arqueiro-mestre deve encontrar seu Drona e desenvolver uma mente treinada. É um prazer encontrar um arqueiro-mestre que freqüentou a escola tempo suficiente para beneficiar-se da disciplina e para aprender a organizar seus pensamentos - a filtrá-los através de sua mente antes de exprimi-los. Uma cliente, mulher de negócios, disse-me uma vez que estava cansada de passar toda a manhã entrevistando dois candidatos sagitarianos a emprego. Nenhum deles havia passado por todo o processo educacional formal; ambos haviam optado por viver em vez de concluir sua escolaridade. Ela disse, "Eles eram como incêndios florestais fora de controle. Ambos eram muito entusiastas com relação à oportunidade de emprego. Apresentavam muitas sugestões positivas, mas inadequadas, para mudanças nas funções que eu estava pensando em atribuir-lhes. Eles falavam de uma maneira desorganizada e desconexa, começando por discutir uma área do trabalho, em seguida interrompendo e passando a discorrer sobre outro aspecto. Era como se chegassem a mim a partir de seis ângulos diferentes ao mesmo tempo. Algumas das idéias eram boas, mas a apresentação era terrível. Ao final tive que perguntar a cada um deles, 'Você leu mesmo a descrição do cargo? Você refletiu sobre o que iria dizer antes de entrar? Suas idéias são interessantes, mas você compreende bem em que este trabalho implica?' "

Sem um treinamento com o objetivo de apresentar suas grandes idéias, os sagitarianos podem condescender com a tagarelice própria de Gêmeos, a qual tende a atuar contra eles no mundo dos negócios. Eles também têm a tendência a generalizar em demasia. É necessário um treinamento mental para que aprendam a pensar em seqüência e a usar a imaginação - para que aprendam a ler o documento autêntico (isto é, a descrição de cargo) à sua frente, em vez de ler entre as Unhas ou de aprofundar muito sua leitura.
Isto nos reconduz à questão do centramento, da concentração serena da lição sobre a arte do manejo do arco e à lógica prática da Terra. A pessoa que participa desse arquétipo pode beneficiar-se de planetas fixos para estabilizar a personalidade, ou tirar proveito de Saturno numa casa forte ou de um número de planetas nos signos Terra (Touro, Virgem ou Capricórnio). Talvez seja por isso que Alice Bailey, em Esoteric Astrology, considere a Terra como o regente esotérico de Sagitário. Os sagitarianos mais cultos que encontrei, os dotados de espiritualidade e de vivacidade, e também os mais felizes, manifestam em sua vida diária uma sabedoria muito prática e cheia de bom senso. Terra representa estrutura, habilidade de organização, compromisso, responsabilidade. É verdade que a educação, o ensino de nível superior, pode ajudar a concentrar e a treinar a mente em algumas dessas áreas (como apresentar as próprias idéias de modo a irem de encontro à descrição de cargo), mas, mais importante do que isso, parece-me, é a experiência da vida - a progressão do Sol por Capricórnio. Todos os sagitarianos têm uma progressão de trinta anos pela Terra Cardeal onde, muitas vezes através do mundo dos negócios, ele(a) ativamente aprende sobre realidade através da tentativa e erro, como os demais signos de Fogo. Diferentemente dos espectadores de signo Ar, o fogo tem necessidade de ser um fazedor, não um observador da vida.
Um ativista fogoso com essas características foi Hércules, um herói que encontramos no capítulo dedicado a Áries. Hércules estudou a arte do manejo do arco, tendo Quíron, o Centauro, como professor. A história de Hércules e de seu querido amigo e mestre acrescenta outra dimensão à nossa compreensão de Sagitário - a generosidade do Sábio. Quíron parece ter tido uma educação mais abrangente do que Drona, o Arqueiro do épico hindu. Ele era também um erudito, um professor, curador e orientador renomado por seus "julgamentos justos". Sua forma física era das mais estranhas. Como Centauro, tinha a cabeça e o tronco de homem, mas o corpo de cavalo. (Em sua obra Mythology, Bulfinch nos diz que os Centauros em absoluto pareciam monstruosos ou repugnantes aos gregos, pois estes admiravam verdadeiramente seus cavalos.) Quíron e seus companheiros Centauros habitavam nas florestas da Tessália, uma parte selvagem do país, onde "vagavam livres". Se imaginarmos todos esses cavaleiros gigantes cavalgando pela floresta, poderemos imediatamente compreender a natureza "não me prenda" do arquétipo, e especialmente do Sagitário ascendente, do celibatário ascendente.

Deve-se observar que havia muitos tipos diferentes de Centauros, assim como havia muitas diferentes espécies de sagitarianos. Nem todos eram tão sábios ou tão habilidosos quanto Quíron; na verdade, ele se sobressaía ao bando - ou horda. Bulfinch nos diz que muitos dos Centauros eram "hóspedes grosseiros". Na festa de casamento de Hipodâmia, por exemplo, um deles perdeu o controle, cedeu à sua natureza apaixonada, arrastou a noiva pelo cabelo e a hostilizou. Vários outros seguiram seu exemplo. Jung vê no cavalo o símbolo dos "instintos descontrolados", ou do inconsciente dominando a mente consciente, e essa história da festa de casamento parece confirmar esse ponto de vista. Nos Upanishades, entretanto, o cavalo é símbolo do Cosmos (o Self). Quíron claramente representava a mente no controle dos instintos, ou o cavalgar do cavalo. Como um Centauro bondoso e educado, ele manifestamente havia estabelecido um objetivo superior para a vida, coisa que os outros não fizeram. Apesar disso, em seu encontro com Hércules, mesmo Quíron foi vulnerável na parte cavalo de seu corpo - a perna.

Um dia Hércules, o Herói, passava pela Tessália a caminho de um desafio, ou trabalho, quando lhe ocorreu que Quíron poderia dar-lhe algum conselho útil se fosse visitá-lo. Ele estava impaciente, porém - esta é uma história do signo Fogo - e não queria esperar ocioso enquanto Quíron e os demais erravam no outro distante lado da floresta. Pediu então ao Centauro que estava de serviço que abrisse um barril de vinho e lhe oferecesse uma porção. O cheiro do vinho imediatamente chegou aos outros Centauros, que logo se enfureceram. Ou um ladrão se havia apossado do que lhes pertencia ou um inimigo se aproximava de seu território.

Hércules entrou em pânico quando ouviu o som de seus cascos em desabalada carreira em sua direção. Em meio à poeira que o bando levantava, Hércules não podia ver absolutamente nada. Seu terror era tanto que pensou que seria esmagado até a morte; então, instintivamente, disparou uma saraivada de flechas para o alto. Ele não se concentrou nem mirou, mas queria apenas adverti-los - fazê-los saber que o Grande Hércules estava lá. Então, consternado, descobriu que uma das flechas perdidas havia atingido seu amigo e mestre amado, Quíron, ferindo-o na perna. Por ter Hércules banhado as flechas no sangue de Hidra, um veneno particularmente forte para o qual não havia antídoto, Quíron, o médico ferido, não poderia curar a si mesmo. Quíron, tão educado, tão inteligente, tão erudito; Quíron, tutor do famoso curador Esculápio; Quíron, o Imortal, não tinha condições de fazer com que sua ferida parasse de doer.

Quíron, todavia, tinha uma disposição sagitariana generosa. Como um Imortal, ele não podia morrer. Entretanto, sem exigir nada em troca dispôs-se a descer aos infernos e a ocupar o lugar de Prometeu, possibilitando assim que o ladrão do Fogo pudesse ficar livre. Quando Quíron dirigiu-se ao Tártaro, Hércules continuou seu caminho com tristeza, lamentando a impaciência que o havia apressado a pedir o vinho. Como o fogo Áries, Sagitário não tem paciência de esperar, e muitas vezes tem problemas por adiar uma gratificação. Hércules sabia que se o vinho não tivesse sido aberto, os Centauros não teriam sentido seu cheiro e não teria havido debandada do grupo. Ele jurou que jamais dispararia novamente uma flecha em defesa própria sem antes mirar cuidadosamente, esperar que a poeira baixasse e que o inimigo se tornasse perfeitamente visível. Os gregos registram que a ferida de Quíron finalmente ficou curada e ele subiu aos céus para ocupar seu lugar na constelação de Sagitário.

No meu relacionamento com este arquétipo, conheci muitos Quírons sábios, mas feridos, e também muitos jovens Hércules impacientes e impetuosos. Quando se trata de outras pessoas, o ferido Quíron pode ser um conselheiro eficaz, possuidor de uma grande percepção intuitiva, pois Apolo lhe deu o dom da profecia. Mas quanto à sua própria ferida, o sábio sagitariano que presta bons serviços aos outros prefere não enfrentar a situação pelo maior tempo possível. Os signos de Fogo são muito favoráveis a projetar a culpa - afinal, a flecha é um projétil. Não é suficiente incriminar o mundo externo pela ferida. "É culpa de meu marido, de minha mãe, do meu patrão", etc. Jogar a culpa em Hércules na verdade não produz nada de construtivo no que se refere à cura da ferida, mesmo que Hércules seja a parte culpada. Para aliviar a dor e encontrar a cura, Quíron devia descer aos infernos (o inconsciente) com seus instintos. Os signos Fogo geralmente são impacientes com o processo interior e rompem com sua própria orientação prematuramente. Eles preferem viver mais no mundo exterior do que no interior. Afinal, a 9ª Casa é uma Casa de Fogo, cheia de atividades agradáveis e de passatempo, de viagens, workshops, cursos, conversas, livros. Tártaro (terapia) não é um lugar agradável, onde o sagitariano goste de ficar longos períodos de tempo. É mais fácil dizer, "Fiz meu próprio diagnóstico e estou curado. A ferida desaparecerá se eu modificar meu ambiente externo - se voltar à escola, se me dedicar às vendas em vez de dar aulas." Mas, num novo ambiente, o mesmo velho horóscopo continuará a manifestar-se (a ferida continuará a doer). É preciso paciência, tempo e muitas vezes outro médico para curar uma ferida profunda. Quíron tinha que passar um tempo no Tártaro.
Em seu livro Alchemy, Marie-Louise von Franz afirma que lavar as sete estrelas nove vezes significa que a transformação pode precisar de nove ou dez anos de terapia. Durante o processo a pessoa deixa de projetar seus sete planetas sobre o mundo exterior. Ela aprende que suas lamúrias com relação a seu mal-humorado patrão significam que ainda não está em contato adequado com seu próprio Marte. Se uma pessoa se queixa do tipo de relacionamento que constantemente atrai no mundo exterior, ela está projetando sua inabilidade em manifestar adequadamente seu próprio Vênus. Pelo fato de que Sagitário muitas vezes projeta seus próprios problemas, isso pode exigir-lhe passar por vários patrões intratáveis ou relacionamentos difíceis para descobrir o padrão subjacente a suas projeções e para procurar ajuda. Sagitário tem a liberdade em alta estima, e para livrar-se das projeções que o aprisionam, para poder viver consciente e espontaneamente, é de grande valia o esforço que investe na purificação alquímica.
A sabedoria resulta da prática do desapego e da introspecção coroada pela compaixão. Júpiter, regente de Sagitário, é exaltado em Câncer, o arquétipo da Grande Mãe. Na arte chinesa, Kwan Yin Bodhisattva, personificação da Sabedoria/Compaixão, anda sobre as nuvens empunhando seu arco para combater o Mal. A sábia e compassiva mãe, entretanto, não ataca a pessoa que faz o mal mas apenas e tão-somente o Mal em si. Esta é uma lição importante que o sagitariano deve aprender da exaltação de seu regente no misericordioso Câncer. O sagitariano superior incorpora a sabedoria e a compaixão de Kwan Yin em seus esforços pela ação correta.

Em que direção, então, o sagitariano superior arremessa sua flecha? Qual o alvo superno para o qual ele aponta? Creio que a resposta é: para a Verdade. É isso que Zeus, em sua manifestação maior, queria dizer aos gregos, e é isso que está implícito na busca sagitariana da honestidade, da sinceridade, da integridade e do julgamento justo.

Por que associamos a busca da Verdade com o arquétipo de Sagitário? Para responder a essa pergunta precisamos nos familiarizar com o Todo-poderoso Zeus, mais tarde conhecido como Jove ou Júpiter pelos romanos. Júpiter não é apenas o regente mundano de Sagitário e da Nona Casa, mas ainda, devido à sua natureza magnificente, Zeus Todo-poderoso exerce uma influência tão forte que nenhum outro planeta poderia ser exaltado em seu signo. O sagitariano, como seu regente, manifesta grandes virtudes e grandes vícios. Em geral podemos aplicar isto também ao indivíduo nascido com um Júpiter na Nona Casa ou com Júpiter em Sagitário.

Em Zeus e Hera Karolyi Kerenyi nos revela que quando Zeus apareceu na Grécia (muito provavelmente oriundo do Egito ou da Babilônia), os gregos o viram como uma força ou Presença Sagrada. Nenhum artista precisava representá-lo. O Zeus que-tudo-vê estava em toda parte, no topo dos montes, caindo como uma chuva branda ou visto no firmamento da noite sob a forma de um raio ou de um trovão. O Zeus do céu diurno era reconhecido por presságios positivos como o vôo da águia ou por uma mudança brusca no clima que revelava sua presença. O Zeus do céu noturno era uma força mais assustadora. A presença de Zeus era sentida de modo particular nas fogueiras. Nas cavernas escuras de Creta e nas agrestes elevações da Tessália, os gregos antigos sentiam a presença e proteção de Zeus em seus fogos a céu aberto. Existe em cada sagitariano uma centelha sagrada de Zeus. Zeus e Theos (Deus) são uma só e mesma coisa. Da palavra Theos derivamos a palavra entusiasmo. Em todos os clientes sagitarianos - mesmo naqueles que parecem queimar como incêndios florestais fora de controle - existe esta centelha pura do entusiasmo de Zeus. Há um impulso a prosseguir com ela, a avançar na direção do objetivo. A maioria dos astrólogos do século XX pode facilmente estabelecer relações com as características positivas de Júpiter/Zeus e com as palavras-chave positivas para Sagitário.

Como os gregos antigos, estamos cientes de que Júpiter é o grande propicia-dor. Como Vênus, a propiciadora menor, ele brilha com uma luz intensa. Os antigos sabiam que Júpiter era o maior dos planetas do sistema solar. Hoje sabemos que é o de maior massa e que, se suas dimensões fossem um pouco maiores, ele seria um Sol, o centro de seu próprio sistema solar, com planetas girando ao seu redor. Por isso podemos facilmente compreender as palavras-chave que os gregos atribuíam a Zeus - magnanimidade, majestade, poder, beneficência, abundância, espiritualidade, seriedade, jovialidade, otimismo, justiça, verdade, sabedoria, etc. Os astrólogos atuais podem com facilidade conhecer o Zeus de Homero que se manifesta na Ilíada e que era chamado de o Conselheiro, Zeus que-tudo-vê e Zeus o Sábio. Este seria o ideal arquetípico.

Entretanto, em Psychology of the Planeis, Françoise Gauquelin afirma que, mais do que as positivas, as palavras-chave negativas de Júpiter correspondem a um Júpiter fortemente posicionado por posição de Casa em mapas individuais. Algumas das palavras-chave negativas que ela lista são: arrogante, orgulhoso, negligente, constrangedor, excessivamente otimista, esbanjador, parolador, extremista, provocador, extravagante, não crítico, fanático, preguiçoso, indeciso, narcisista, pomposo, aparatoso, oportunista. Estas são as características que aparecem nos mitos do Zeus do Céu Escuro que trovejava contra seus inimigos e não economizava seus raios. O mito da luta de Zeus com Tifão foi narrado no capítulo de Escorpião. Vimos aí o lado fanático e arrogante do Todo-Altíssimo. Em vez de aprender de Tifão (integrar sua sombra), Zeus lançou seus raios e matou seu oponente, o filho da Mãe Terra. No The Astrology of Fate, Liz Greene nos diz que em Sagitário o "fanatismo em geral está intimamente ligado a dúvidas interiores profundas". Também percebi que quando um sagitariano explode com força brutal (o raio de Zeus), ele assim procede em geral impelido pelo medo. Zeus ficou aterrorizado com Tifão (seu próprio pesadelo). O cliente sagitariano, em vez de fazer uma introspecção com relação a seus próprios medos interiores, fica condescendendo como Zeus com reações exacerbadas no mundo exterior. O Zeus do Céu Escuro, o deus-tempestade, é o lado paradoxal da personalidade sagitariana, o lado genioso que age com o raio - reage com atitudes desproporcionais ao crime cometido contra o Tribunal de Zeus. (Zeus era conhecido como o Deus da Mão Violenta devido a seu gênio descomedido.)

Especialmente apropriado ao estágio sagitariano de purificação é Zeus Sicásio, uma figura regia que segura uma cornucópia (abundância) e que envia sua Águia real mensageira. Encontramos essa águia de sangue vermelho em Prometheus Bound. Todos os dias, a Águia descia aos infernos para devorar uma porção do fígado de Prometeu, com o fim de purificá-lo e purgá-lo de suas toxinas emocionais. Homero também nos diz, na Ilíada, que Zeus tinha ligação com o enxofre, o purificador alquímico. Zeus banhava as coisas no enxofre e certa vez destruiu uma árvore com seu raio, deixando pairar no ar o cheiro de enxofre.
Durante sua "sulfurosa" progressão de trinta anos por Capricórnio, muitos clientes sagitarianos passaram por uma purificação simbólica. Eles desenvolveram seu senso saturnino de planejamento, aguçaram sua concentração na meta em vista e desenvolveram um sentido mais realista de suas limitações no que estas têm de ligação com o tempo, com a energia e com o dinheiro.

Em Please Understand Me, Keirsey e Bates se referem à "ética do trabalho" versus "ética do jogo". A ética do trabalho é bastante saturnina (capricorniana) e a ética do jogo é mais jovial (sagitariana). Por natureza, Sagitário parece mais inclinado a manter suas opções em aberto, a resistir a datas fatais fixas relativamente a seus projetos e a preferir a espontaneidade a um planejamento de longo prazo. Como um signo de Fogo, o sagitariano gosta do projeto em si (a ação) e não da sua preparação, manutenção, ou término - ele(a) tende a sumir e a deixar incompletas essas etapas do projeto. Durante a progressão capricorniana, o sagitariano encontra a ética do trabalho a cada passo. Há uma introspecção saturnina presente na progressão em Capricórnio que permite a Sagitário entrar em acordo com Zeus do Céu Escuro e trabalhar com os traços negativos de Júpiter - procrastinação, preparação deficiente, datas-limite não cumpridas, etc. Entre meus clientes, tenho vários sagitarianos que nunca precisaram lutar para ganhar a vida. (Alguns herdaram riquezas; outros são mantidos pelo cônjuge.) Eles nunca foram expostos à ética do trabalho sob a forma de um empregador. Eles têm ideais elevados que são desproporcionais em comparação com suas limitações de tempo e de energia. Uma sagitariana assim mencionou que gostaria de terminar seu curso de graduação mas que não sabia por onde começar. Antes de seu casamento, ela havia cursado uma miscelânea de cursos - aqueles de que gostava. Entretanto, deixara de freqüentar muitas das disciplinas obrigatórias. Vinte anos mais tarde, ela ainda estava longe da conclusão do seu curso, embora ainda conservasse essa possibilidade entre seus objetivos.

Outra sagitariana declarou que sabia que sua casa estava toda em desordem. Abstratamente ela gostaria que sua garagem passasse por uma faxina geral para poder ali guardar algumas peças da mobília da casa. De fato, porém, o tempo foi passando e a desordem aumentando. Quando lhe perguntei sobre isso, ela respondeu, "Não sei por onde começar. Sempre que penso em todas as providências que tenho que tomar - separar o que presta, fixar o preço, telefonar ao jornal para compor o anúncio, fazer doces para vender na garagem, etc. - bem, fico tão cansada só em pensar nisso que preciso sentar-me e relaxar."
Astrólogos esotéricos têm esclarecido, e com propriedade, que Sagitário tem grande aspiração e metas elevadas mas é fraco na continuidade. Muitas vezes Sagitário teve a impressão de que a meta está tão distante que lhe parece impossível dar o primeiro passo. Uma expressão ou comentário que os astrólogos ouvem muitas vezes de Sagitário é: "Não sei por onde começar." Minha experiência comprova que a progressão por Capricórnio mostra ao sagitariano por onde começar e como manter a caminhada. Depois da progressão de trinta anos por Capricórnio, por sua associação com o mundo dos negócios, o indivíduo aprendeu a desenvolver o bom senso. Ele(a) tem uma percepção maior da praticidade de seus objetivos e do método que deve adotar para alcançá-los - para lidar com datas fatais, como o estresse, para se ajustar à rotina de trabalho. Os sagitarianos que trabalham como autônomos durante essa progressão aprenderam a tratar com detalhes como documentos dos empregados, formulários do governo, faturamento e cobrança, e preenchimento dos requisitos necessários para licenciamento em seu campo de atuação, mas esse aprendizado foi extremamente doloroso para muitos deles. Entretanto, desenvolveram o que Jung chamaria de embasamento, "estar com os pés no chão".

O sagitariano que está no limiar da progressão em Aquário diz ao astrólogo, "Estou aborrecido demais. Consegui o que me havia proposto realizar no mundo exterior" - viagens, sucesso acadêmico, reconhecimento, e mesmo riquezas. "Alguma coisa está faltando, porém. Eu não deveria ser mais feliz na minha vida pessoal? Estive canalizando toda essa energia para o mundo exterior mas sinto que minha vida está incompleta." O que geralmente respondo é, "Tenha coragem; você está começando uma longa progressão através de Aquário." Esteja casado ou seja solteiro ao iniciar sua progressão em Aquário, o cliente sagitariano tende a deslocar sua energia do mundo exterior da profissão e a concentrá-la no relacionamento. Aquário, como os outros signos Ar, está associado à comunicação e ao relacionamento com os outros, e acima de tudo está empenhado em manter uma amizade igualitária. Isso não significa que logo que Sagitário entra em progressão no novo signo, ele(a) irá de repente querer assar bolos ou limpar a casa. Significa sim que, com seu costumeiro idealismo elevado, procurará encontrar um companheiro que partilhe de seus objetivos, que se comunique bem, que lhe proporcione espaços, que com ele(a) divida sua visão de mundo. Em muitos casos, o novo parceiro gosta de viajar e é rico.

Nos primeiros cinco anos da progressão por Aquário, percebi o desenvolvimento de um padrão. O sagitariano pode perguntar, "Quando vou encontrar um homem (mulher) rico?" Ele(a) está buscando Júpiter no mundo exterior. Ele(a) gostaria de casar-se com seu planeta regente (o anjo da guarda, o princípio da abundância, o corno da fartura) para que este cuidasse dele(a). Às vezes pergunto, "O que você vai levar para esse relacionamento com relação ao qual você tem padrões tão elevados?" À medida que a progressão em Aquário se aprofunda, as pessoas de Sagitário se tornam mais Fixas e tendem a acomodar-se em seus relacionamentos pessoais e a tornar-se mais realistas em suas expectativas. A progressão aquariana lhes proporciona fixidez de propósito e as ajuda a prosseguirem até o fim. À proporção que avançam em Aquário, muitas parecem demonstrar maior capacidade para concretizar seus sonhos aqui na Terra. A impressão que se tem é que se aproximam mais de sua verdade, a qual cada Sagitário percebe a seu próprio modo.

Para os gregos, o Todo-Altíssimo Zeus era acima de tudo considerado o mantenedor da Ordem Cósmica, da Lei Cósmica, da Justiça, da Verdade e da Virtude. Zeus presidia às promessas feitas e aos juramentos prestados. Sabemos pela Ilíada de Homero que Zeus punia os perjuros lançando-os no Tártaro. Em Prometheus Bound, Hermes nos diz que o Pai Zeus não ama o mentiroso e "proferir falsidades é algo que a boca de Zeus desconhece". O mesmo não ocorre, porém, com o aéreo Gêmeos, sua extremidade polar. Para os antigos gregos e também para as antigas civilizações egípcia e hindu o pensamento e a palavra eram causativos. Portanto, quando Hermes (regente de Gêmeos) ensinou seu filho Autólico a realizar encantamentos, ou a arte imaginativa de jurar falso, ele estava em diametral oposição à natureza de Zeus pela verdade. Gêmeos ardilosos (Hermes) estão distanciados 180 graus de Sagitário (Zeus).
Em sua obra Alchemy, Maria-Louise von Franz descreve este instinto pela verdade, e eu o vi operando em muitos de meus clientes sagitarianos. Ela diz que os antropólogos descobriram entre tribos primitivas um sentido muito aguçado para perceber quando alguém estava mentindo ou escondendo a verdade. Um informante contou a um pesquisador que um rico pescador havia-lhe oferecido o que parecia ser uma ótima oportunidade para navegar com ele em seu novo barco. Mas recusou a oferta porque sabia que o pescador, embora falasse bem, não era um homem bom. Von Franz afirma que em nossa sofisticada cultura moderna perdemos esse instinto pela verdade. Todavia, com freqüência o vejo em meus clientes sagitarianos. E, como Zeus, eles "não gostam do mentiroso".

Uma jovem com vários planetas em Sagitário mencionou literalmente que havia rompido seu noivado porque o noivo havia mentido. Para ele, a mentira era inofensiva, contada porque não queria magoá-la. Mas, para ela, isso era reflexo de uma falta de sinceridade mais profunda. Ela disse, "Se mentiu uma vez, ele o fará novamente. Se mente sobre pequenas coisas, também irá mentir sobre grandes." Ela havia interpretado a mentira de modo instintivo.

Zeus, sentado em seu tribunal, não pesa as palavras mas instintivamente conhece a verdade ou falsidade por trás delas. No capítulo sobre Gêmeos já nos deparamos com a habilidade de Zeus de perceber os álibis fantasiosos de Hermes no caso do rebanho roubado de Apolo. Em Esoteric Astrology, Alice Bailey nos diz que Mercúrio (Hermes) tem seu poder enfraquecido em Sagitário. Para mim, isso tem sido um fato autêntico ao longo dos anos, no trabalho com meus clientes sagitarianos. Não quero dizer que eles sejam tolos; mas sim que os fatos, a lógica e as circunstâncias (ética da situação) particulares são irrelevantes. À semelhança do próprio Zeus, por intermédio de seu instinto da verdade, muitos sagitarianos podem ver além dos fatos de Gêmeos, não importa o quanto bem organizados estejam, e perceber a falácia. É isto que torna este arquétipo tão adequado ao ambiente da sala do tribunal.

Como Zeus, os sagitarianos têm um forte sentido de justiça. Ao ouvi-los descrever seu sentimento de revolta com relação à ação de um supervisor contra um colega de trabalho, sempre me vem à mente a passagem bíblica das Bem-aventuranças, "Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados" (Mateus 5:6). Como pessoas extrovertidas, os sagitarianos muitas vezes lutam pelos outros ou tentam corrigir os erros dos seus semelhantes. Seu senso de justiça é diferente do de Libra. Enquanto Libra se relaciona com a justiça através do equilíbrio mental da balança, o Sagitário Fogoso o faz pelas emoções e pelo desejo de agir - de fazer alguma coisa para corrigir os erros do seu meio. Enquanto a espontaneidade sagitariana em definitivo tem suas vantagens, Pitágoras, que amava a Zeus acima de tudo, disse que a justiça deve ser temperada pela prudência. Ele considerava a prudência a maior virtude mental, essencial para uma vida equilibrada. É possível que Sagitário ganhe a reputação de encrenqueiro pela constância com que empreende novas e renovadas cruzadas.

Considerada abstratamente, a justiça é uma etapa importante da busca da verdade empreendida por Sagitário. Pitágoras nos diz que a justiça é a mais importante de suas quatro virtudes e está contida nas outras três: prudência no pensamento, coragem na ação, e temperança no que diz respeito a tudo que envolve os sentidos. Ele esclarece que a justiça é "uma esperança que não pode enganar-nos." Para os que estão no Caminho da Verdade e da Sabedoria proposto por Pitágoras, a carta da justiça do Taro é um símbolo amoldado para meditação. Para Pitágoras, a Justiça tinha mais em comum com a harmonia do que com a compensação da vítima. Não era um processo matemático de exigir um olho por um olho e um dente por um dente. Era uma questão de dar sustentação à Ordem Cósmica. Zeus era um Juiz Absoluto. Entretanto, a carta da Justiça do Taro é muito feminina. Numa das mãos, ela empunha uma espada que representa o discernimento e, na outra, segura uma balança. Como a Deusa Atena, ela usa um elmo que simboliza a coragem. Seu olhar está fixado à frente como se, distante e imparcial, estivesse vendo além dos fatos e personalidades dos litigantes a Verdade em si. Assim, ela parece misturar a coragem e o discernimento masculinos com o sentimento feminino pela verdade. Sua postura parece dizer que a justiça é de fato uma esperança que não pode nos enganar. Suas palavras parecem ser estas, "ponha a justiça em seu coração e olhe para o seu interior; julgue a si mesmo em vez de buscar a justa recompensa nos outros".
Os astrólogos muitas vezes se deparam com clientes contenciosos - aqueles que constantemente buscam compensação nos tribunais. Sua questão mais corriqueira é sobre datas favoráveis para entrar com a ação judicial. A Ordem Cósmica seria mais bem servida se os contendores se empenhassem em restaurar a harmonia em vez de buscar compensações financeiras. Minha experiência diz que uma atitude litigiosa tende a envolver o cliente num círculo vicioso de processos judiciais. Ela também indica que o litígio produz avareza, um dos vícios contra os quais Pitágoras nos adverte.

Para os gregos, o Pai Zeus não era apenas um Juiz justo; era também um Pai misericordioso. Ele perdoou Prometeu com magnanimidade sagitariana. Zeus não guarda ressentimentos. Nem os sagitarianos. Eles se irritam rapidamente, mas também rapidamente perdoam. Embora a cidade de Ílion, a capital do reino de Tróia, fosse habitada quase que só por seus leais e devotados seguidores, Zeus ouviu as orações de uma mãe grega em favor de seu filho, alterou o curso da batalha e deixou que os gregos destruíssem ílion. Ele era Mutável. Os mitos de Zeus estavam cheios de surpresas. Ele amava a liberdade, o que era resquício da personalidade sagitariana. E também viajava muito. Seus mitos abrangem a Grécia toda.
Zeus, então, primeiro apareceu aos gregos como um deus impessoal cheio de poder que subitamente podia disparar seu raio à noite, ou como uma presença reconfortante que podia ser sentida no alto da montanha durante um agradável almoço de piquenique. Era a força moral de Zeus que sustentava a realeza e a ordem social sobre a Terra. Os reis auferiam sua autoridade de Zeus e deles se esperava que correspondessem às suas responsabilidades, que mantivessem seus juramentos e que protegessem seus súditos de todos os perigos. De acordo com Karolyi Kerenyi, Xenofonte, por exemplo, teve um sonho provocado por Zeus que lhe oferecia a realeza - um sonho do destino. O trovão sacudiu sua casa e o raio atingiu as proximidades, de modo que a casa toda ficou envolta em luz. Então ele soube que Zeus o "amparava e queria que ele chegasse ao poder".

Zeus era o que enviava sonhos e era o Conselheiro Sábio para muitos mortais, mas especialmente para os reis. Platão, no primeiro livro das Leis, narra a lenda de Creta, a terra natal de Zeus, onde ele era venerado de modo todo particular. De acordo com a lenda, uma vez a cada nove anos, os reis da dinastia minóica encontravam-se com Zeus perto da caverna onde ele havia nascido e eram ali inspirados na elaboração das leis. Platão nos diz que, enquanto essas reuniões aconteciam, o Sol ficava parado no firmamento e uma sensação de descanso, de paz e de eternidade se espalhava por toda a região. No meu entendimento, a impressão que se tem de Zeus como um espírito impessoal é semelhante à que certas seitas cristãs têm do Espírito Santo, que também é mais uma presença do que uma divindade pessoal, e que também é chamado de Conselheiro.

A atitude de espírito livre de Zeus, bem como sua função de protetor da ordem social global mais do que do lar e da vida pessoal, parece ter-se difundido e influenciado a atitude e modo de vida de muitos de meus clientes sagitarianos. Eles não só se insurgem contra a injustiça e a discriminação no trabalho, procuram defender e proteger os humildes e as vítimas do meio ambiente, mas ainda seus cônjuges muitas vezes se queixam ao astrólogo de que essa dedicação e objetivos mais amplos os mantêm longe dos familiares por boa parte do tempo ou que desacomodam a família e a levam às suas cruzadas. Os cônjuges vêem uma devoção ao mundo impessoal e maior à custa do lar e da vida pessoal.

Muitos sagitarianos se consideram catalisadores, pessoas que reconciliam o mundo - tornam-no menor por meio de seus contatos e no trabalho promovem uma compreensão humana mais ampla entre as nações. Uma esposa estudante da faculdade, casada com um professor sagitariano catalisador desse tipo, certa vez observou, "Meu marido acha ótimo ter tirado três férias em dez anos e ter arrastado todos nós a três países de cujas línguas não conhecíamos uma única palavra. Ele ajudou muitos alunos estrangeiros a virem para cá, mas o que dizer de nossos próprios filhos - o que saberão de seu próprio país? Ele pensa que tiveram muitas vantagens em conhecer o mundo, o modo de pensar e de agir de jovens da idade deles. Mas o que dizer das amizades que não conseguem curtir em casa - como os filhos pensam e agem aqui?" O desejo pessoal de ver a paisagem maior, de expandir seus próprios horizontes e de viajar, como também sua dedicação a "tornar o mundo um lugar melhor", são forças que sustentam a motivação de Sagitário.

Um homem casado com uma professora sagitariana fez um comentário semelhante: "Quando nos casamos, eu sabia que ela não era muito afeita às coisas da casa. Ela não sabe cozinhar e precisamos de uma diarista para fazer a limpeza da casa, pois do contrário ficaríamos grudados na sujeira do soalho da cozinha, mas o que de fato me preocupa é sua insistência em adiar a constituição de nossa família - ter filhos. Ela age assim porque quer continuar educando os filhos dos outros e quer estar livre para passar o verão na Europa viajando com suas amigas. Quando nos casamos, pensei que iria querer sua própria família; mas, penso eu, ela tem verdadeira paixão em mostrar sua coleção de slides do velho continente às crianças em suas aulas de geografia." Bem, mostrar slides da Europa à crianças americanas é uma maneira de reunir o mundo. Afinal, Zeus queria que os gregos e os troianos vivessem em harmonia. (A bem da verdade, ele de fato simpatizava mais com os estrangeiros - os troianos - do que com os gregos.)

Certa vez, uma cliente perguntou sobre o seu marido sagitariano: "Você acha que todas as suas viagens de negócio por todo o país são realmente necessárias? Às vezes penso que ele faz tantas viagens só para evitar a mim e às crianças. Acho que fazemos com que se sinta um claustrófobo." Respondi que sim, que de fato há uma certa agitação associada ao signo e a seu planeta regente, Zeus/Júpiter, ligada com espaço e com movimento em astrologia - com uma necessidade de percorrer distâncias e cobrir quilômetros, para experimentar a vida o mais possível. Disse-lhe também que acho que as viagens o ajudam a liberar muita energia, pois são algo bem diferente do envolvimento nos negócios. Essa cliente era um tipo emocional e queria que o marido ficasse em casa, que se relacionasse com ela, e achava isso difícil, mas o Centauro vagueando pelos espaços abertos é parte da jornada arquetípica para a Nona Casa e para o nono signo. Muitos clientes com planetas na Nona Casa afastam-se regularmente do trabalho por um ano ou dois, viajam ao exterior e quando retornam procuram outro emprego e outra empresa. Para eles, viajar é mais importante do que os supostos benefícios de um emprego estável na mesma firma.

Muitos clientes de Sagitário ascendente não conseguiram satisfazer o desejo de viajar antes de aposentar-se, mas sempre sonharam em estar em constante movimento num furgão ou trailer, livres para percorrer o país após a aposentadoria. Se o cônjuge não compartilha da aspiração por lugares distantes e prefere permanecer junto dos netos, esse fato cria problemas de aposentadoria. Minha experiência com este ascendente "não me prenda" em particular é que os espaços abertos chamam e a pessoa gosta de passar seu tempo livre na floresta ou nas montanhas, muito à semelhança de um Centauro. Muitas vezes o casamento é adiado até que a sede de viagens diminua na meia-idade (em geral na casa dos quarenta) ou que uma casa nas montanhas possa vir como uma segunda residência para que a personalidade jupiteriana possa sentir-se livre para meditar em meio à natureza, longe do bulício da vida da cidade e da floresta de concreto.

Chegamos agora a um aspecto interessante de Zeus impessoal, o espírito livre. Qual era sua postura ao estabelecer relacionamentos com outros? Desejava realmente aquietar-se com Hera e constituir família ou se sentia mais feliz solteiro? Homero e os mitólogos gregos mais recentes nos informam que Zeus era bastante promíscuo. Como prova, citam uma longa lista de casos amorosos e de filhos ilegítimos, e uma esposa irritada, Hera. Entretanto, nunca encontrei um sagitariano promíscuo que não tivesse aspectos enganosos no mapa ou muitos planetas Escorpião que gostam de confusão e de mistério (a maquinação do caso e também a paixão sexual). Além disso, teríamos um verdadeiro paradoxo se o mantenedor da ética, da verdade, da honestidade e da moralidade rompesse sua palavra e fracassasse no cumprimento de sua própria lei - ele deve ser coerente com seu próprio contrato matrimonial.

Seria lógico supor que se Zeus fosse um deus volúvel, Sagitário teria inclinação à deslealdade matrimonial, a uma conduta inconstante e à promiscuidade. Pitágoras recomendava a seus discípulos que não nutrissem esse tipo de pensamento a respeito de Zeus, e que não lessem os poemas épicos de Homero porque estavam cheios de difamações contra os deuses, especialmente contra Zeus. Depois de ler Pitágoras, aprofundei minhas pesquisas sobre as interpretações dos mitos envolvendo Zeus e cheguei a uma boa explicação na obra de Kerenyi, Zeus and Hera. Segundo Kerenyi, Zeus era um espírito livre que continuou solteiro por muito tempo depois de sua chegada à Grécia, até que finalmente os criadores de mitos realizaram seu casamento com Hera, a Grande Mãe, a mais venerada de todas as deusas gregas. Os fazedores de mitos evidentemente procuravam um casal arquetípico - rei e rainha, Deus Pai e Deusa Mãe, e então deram a Zeus uma esposa. (A interpretação de Kerenyi parece lógica depois da leitura das narrativas do mesmo processo ocorrendo na índia: ali também os inventores de mitos uniram o Senhor Shiva a todas as deusas do Sul do país, incluindo-o assim na adoração da deusa através de seu novo elo com as divindades mais antigas.)

Algumas das primeiras representações de Zeus eram imagens existentes nos templos dedicados a Hera em Samos e na Ática, os mais importantes locais de culto da Grande Mãe. Em Samos, por exemplo, foram encontradas estátuas em terracota de Hera e de um jovem com barba (Zeus) de pé junto à cama real. Estatuária semelhante foi encontrada na Ática. Em Samos, os devotos de Hera celebravam o enlace do rei com a rainha, do pai com a mãe, exatamente como hoje, no Sul da índia, podemos participar da renovação do decreto que une o Senhor Shiva a uma deusa local, Meenakshi, no Templo de Madura. Na Grécia como na índia os criadores de mitos começaram atribuindo poder ao Feminino, estenderam-se a um casal arquetípico em que deus e deusa eram igualmente poderosos e, na Idade dos Heróis, transferiram o poder para um Deus Pai patriarcal.

Mas o que o casamento simbolizava realmente? Podemos entender que Zeus e Hera outorgassem legitimidade ao rei humano, dando suporte à ordem moral aqui na Terra, mas, se não há um sentido político, qual o significado real do matrimônio? Os títulos dos cultos nos fornecem pistas muito interessantes. Zeus era conhecido como Esposo Tonante de Hera. Depois da cerimônia, Hera era chamada de Hera Perfeita (Hera Teléia) e Zeus, Portador da Perfeição (Zeus Teléios). Assim, os gregos acreditavam que o casamento propiciava a perfeição ou a plenitude. Foram dadas muitas interpretações ao conceito de que ambos eram seres purificados e perfeitos, de modo que a Nona Casa dos deuses conferia perfeição à 7ª Casa - a instituição humana do matrimônio. Na astrologia, temos uma relação sextil entre as Casas 7ª e 9ª. Na astrologia indiana, a 9ª Casa é a Casa do casamento - a Casa da alma gêmea onde se efetiva a plenitude entre o masculino e o feminino quando estes se fundem no enlace matrimonial.

No capítulo sobre Libra, vimos que o ideal espiritual é muitas vezes projetado sobre o parceiro. Nossa esperança é que o matrimônio irá completar nossa vida e ajudar-nos a aperfeiçoar ou equilibrar (a balança libriana da 7ª Casa - matrimônio) nossa própria energia. Mesmo hoje muitos de nós imaginamos o casamento como uma perfeição alcançada através da união com nosso parceiro ideal - a anima ou animus em sua manifestação positiva. Esta idéia de "perfeição" e "portador da perfeição" derivada do matrimônio de Zeus com Hera parece-se à teoria hindu da alma gêmea. Os hindus que defendem a teoria da Alma Gêmea acreditam que todos nós estamos procurando a outra metade - a parte de nossa alma que se fracionou séculos atrás para renascer em muitos corpos, macho e fêmea, e para experimentar a vida em sua plenitude. De acordo com esta teoria, em alguma vida todos encontraremos a outra metade de nossa própria alma e novamente nos fundiremos na totalidade. A perfeição de Zeus-Hera, então, pode ter tido um significado espiritual mais profundo (9ª Casa) do que seu sentido político de legitimação de um rei e rainha locais, ou mesmo de legalização do matrimônio humano como instituição.

Assim, dependendo da interpretação que se faça da mitologia, Zeus encontrou em Hera sua alma gêmea ou seu justo castigo. Talvez fosse uma mistura de ambos, como parece acontecer com muitos de meus clientes sagitarianos casados. A agitação do Todo-poderoso era contida, refreada. Talvez ele sofresse de claustrofobia. Ainda assim, é difícil acreditar que Zeus fosse volúvel ou que faltasse integridade, honestidade e compromisso com relação a Hera. No poema de Homero, Zeus e Hera são apresentados como um casal bastante incompatível. Ela, a Todo-poderosa Grande Mãe, foi por Homero reduzida a uma megera impertinente e o Todo-poderoso Zeus a um marido dominado. Há, todavia, algo mais a ser extraído da licença poética do autor com a tradição mitológica. Ele faz Zeus ameaçar pendurar Hera pelos calcanhares se ela não se mantiver calada.

Apesar de Mutável, Sagitário é um signo Fogo e é temperamental. Ao chegar em casa depois de um dia de trabalho, os sagitarianos gostam de distrair-se. Por isso, detestam chegar e ouvir uma fiada de queixumes maçantes ou receber uma lista de coisas para fazer antes de se liberarem para ir à cancha de tênis ou à quadra esportiva, ao boliche, ou a qualquer outro esporte. A prática de exercícios é mais satisfatória para desligar-se do afã do dia-a-dia do que receber a incumbência de consertar uma velha geladeira.
Ptolomeu utilizou o termo "repouso" como uma importante palavra-chave para Júpiter/Zeus. Repouso significa paz e também relaxamento. Os pais sagitarianos, como os cônjuges sagitarianos, têm dificuldade em ir diretamente para casa, onde encontrarão desconforto, em vez de descanso e relaxamento. Uma mão sagitariana ligou-me num estado de extrema irritação depois de uma discussão com a professora de seu filho. Ela disse, "Cheguei em casa depois de um dia de trabalho intenso só para me irritar com um recado na secretária eletrônica. Não cheguei a ouvir todo ele, mas a idéia principal era que a professora de Andy o havia retido depois da aula como castigo por algo que eu tinha certeza de que ele jamais faria. Tive de cruzar a cidade para buscá-lo eu mesma e estava fora de mim. Como ela podia tratar meu filho daquele jeito? E você não vai acreditar: depois de desabafar e dizer à professora tudo o que se passava na minha cabeça, descobri que meu filho havia realmente feito o que ela havia dito. Ela me chamou de insolente, arrogante, pretensiosa e disse que obviamente eu não tinha me preocupado em prestar atenção a todo o comunicado telefônico. O pior foi que Andy- aquele infeliz! - pensou que eu o tinha colocado numa situação delicada. Ele me disse que queria travar suas próprias batalhas e que a professora provavelmente revidaria meus berros com retaliações contra ele. Ele deveria ficar contente por ter uma mãe que o apóia!"
Minha reação imediata à história foi que a irritação da cliente sagitariana com relação a uma suposta injustiça interferia com seu instinto comum pela verdade. É claro que qualquer mãe, não importa sua data de nascimento, tem dificuldade em ser objetiva com relação a seu próprio filho. Entretanto, antes de empunhar a espada da justiça, é importante conhecer toda a mensagem, obter todos os fatos da situação. Muitas vezes os signos Fogo incorrem em erro por agirem antes de conhecer todos os fatos. Neste caso o filho desta mãe tinha um aspecto positivo -ele devia receber apoio para empreender suas próprias lutas. A história dessa cliente me lembrou o Pai Zeus reagindo com excessivo rigor para proteger seu filho Dioniso.

Quando Dioniso apareceu na Grécia pela primeira vez, um rei muito obstinado, Licurgo da Trácia, recusou-se a adorá-lo pelo que ele, Licurgo, considerava serem muito boas razões. Inicialmente Dioniso assustou-se com Licurgo e refugiou-se no mar. Posteriormente, com mais coragem, Dioniso retornou para capturar Licurgo e confiná-lo a uma caverna. Depois de algum tempo, Licurgo saiu da caverna com grande respeito pelo deus a quem havia ridicularizado. Foi nesse ponto que Zeus ouviu que seu filho estava sendo tratado com leviandade por um simples mortal. Furioso com a notícia, Zeus imediatamente foi à Trácia e fez com que Licurgo ficasse cego. Como a maioria dos mortais que sentiram a ira de Zeus do Céu Escuro, Licurgo morreu pouco tempo depois. Os outros deuses disseram a Zeus que ele havia agido com demasiado rigor. Em várias ocasiões como essa, quando Zeus estava encolerizado com alguma injustiça cometida, Apolo o conduzia a um local sossegado para acalmá-lo. Este mito tem uma semelhança muito grande com a situação de minha cliente e de seu filho. Zeus não investigou a situação na Trácia antes de definir a ação que tomaria. Ele não sabia que Dioniso já tinha travado sua própria batalha; ela não sabia que seu filho havia sido punido "com justiça".

Embora todos os mitos do Zeus grego fossem associados ao Júpiter romano, sua função como pater ou Pai era das mais importantes na época dos romanos. Em latim, Júpiter é Iu-pater ou Pai Celestial. Sua força moral e sua relação com a expressão da verdade e a manutenção dos juramentos eram vistas pelos romanos como a fonte do seu poder. Nossa expressão "por Júpiter" (por Deus) deriva do antigo juramento romano feito em nome de Júpiter. Em sua função moral, o Júpiter romano é semelhante ao Iahweh que entregou os Dez Mandamentos a Moisés. O Zeus que era um espírito livre para os gregos tornou-se o árbitro da lei moral de "poderias" e "deverias" para os romanos. Zeus, tanto o do Céu Escuro quanto o do Céu Claro, parece ter sido assimilado quando o cristianismo ficou centralizado em Roma. No cristianismo, o Zeus do Céu Escuro parece manifestar-se como a justa retribuição pela qual o Pai lança os pecadores num inferno eterno. (O inferno cristão difere em muito do Tártaro, o inferno grego, onde os que ofendiam Zeus eram purificados e no fim obtinham a libertação.) Ainda no cristianismo, o Zeus do Céu Claro parece exercer o papel da natureza clemente do Pai. A medida que Zeus passou dos gregos para os romanos e desses para os tempos cristãos, ele tornou-se mais rígido, tendo perdido muito de sua mutabilidade. Entretanto, como Zeus Sicásio, Zeus com o corno da abundância, o Pai Celestial cristão prove tanto fartura material quanto espiritual.

Em nosso estudo do arquétipo sagitariano e da Nona Casa, discutimos a educação superior, as viagens, a justiça e o instinto pela verdade. Resta uma questão das mais importantes - a espiritualidade. Muitos manuais antigos de astrologia referiam-se à Nona Casa como a Casa da Religião. Minha experiência com este arquétipo propõe uma compreensão um pouco diferente. Penso que no século XX poderíamos chamá-la de Casa do Modo de Viver. Assim como Zeus tinha muitos diferentes títulos e era adorado por pessoas de muitos diferentes níveis de compreensão, existem muitos tipos de sagitarianos e muitos níveis em que a Nona Casa pode ser vivenciada. Um dos seus significados é moralidade ética. Por exemplo, uma cliente com vários planetas na Nona Casa perguntou: "As religiões orientais dispõem de uma base ética ou moral? Elas têm alguma coisa parecida com os Dez Mandamentos?" Respondi-lhe que sim, e mencionei os Yoga Sutras de Patanjali. A compreensão dela da Nona Casa era ética. Escritores esotéricos como Alice Bailey e Isabel Hickey deram uma interpretação um tanto diferente à Nona Casa - uma filosofia religiosa do Self, visões espirituais, a sabedoria sobre a qual baseamos nossas ações nas situações práticas da vida. A sabedoria da Nona Casa se baseia no instinto pela verdade.

Isto é parecido com o caminho do Jnana Ioga (sabedoria e verdade) da índia. Quando bem adequado, é algo belo de se contemplar. Um exemplo pode ser a sabedoria de Salomão. Seguindo o instinto mais do que a lógica, ele decidiu entre duas mães, cada uma das quais reclamava a mesma criança. "Cortem-na ao meio e dêem uma parte para cada mãe." Esta sabedoria prática se baseava na compreensão inata do que uma mãe verdadeira faria numa situação dessas - ceder a criança para que ela pudesse viver. Neste caso particular, o instinto de Salomão pela verdade estava exatamente no alvo. Os demais signos Mutáveis muitas vezes não conseguem compreender Sagitário ou as pessoas com planetas na Nona Casa. Elas consideram decisões assim como totalmente arbitrárias e irracionais. Um advogado de Gêmeos ou de Virgem que tivesse preparado uma súmula complexa para o julgamento de Salomão teria ficado furioso. Mesmo quando tem certeza de que o instinto pela verdade é meticuloso, seria aconselhável que Sagitário examinasse essas súmulas para não ser pego de surpresa.

A Nona Casa é a terceira Casa de Fogo e completa a tríade de Fogo: o corpo (Áries), a alma individual (Leão) e o espírito (Sagitário). Esta é uma experiência que ultrapassa a adesão a um dogma religioso, a atenção focalizada em sermões bem elaborados na igreja aos domingos, ou os rituais realizados com uma mente distraída. A maioria de meus clientes sagitarianos preferiria viver a Verdade entrando em comunhão com a natureza no domingo a ouvir a Verdade interpretada para eles por um ministro numa igreja abafadiça. Podemos perceber obstinação, arrogância e estreiteza mental em Sagitário e na Nona Casa, o que é muito paradoxal se pensarmos em termos do espírito (universalidade) e da expansividade de Júpiter. Liz Greene classificou essa situação como fanatismo. Françoise Gauquelin, ao analisar Júpiter, utilizou a palavra arrogância. Pessoalmente, atribuo o paradoxo existente entre comportamento de indivíduos sagitarianos ou da Nona Casa e o ideal tolerante e de mente aberta de Júpiter ao zelo subjacente e ao espírito aguerrido do arquétipo em si. Na prática, é muito fácil confundir a verdade individual com a Verdade Toda.
Muitas vezes clientes individuais apresentam pontos cegos. No caso de Sagitário ou de pessoas com planetas na Nona Casa, um ponto cego pode surgir no decurso de uma conversa, ocasião em que o indivíduo cita uma autoridade de seu tempo de infância ou de colégio, ou menciona uma escritura como autoridade, carregando consigo a conseqüência de que nada de bom pode ser dito a respeito de uma determinada seita, raça, filosofia política, ou até de uma filosofia da Nova Era como a astrologia. Se a Nona Casa é a Casa da Filosofia de Vida, com muita freqüência ela pode ser a Casa de "apenas a minha filosofia é verdadeira; as demais são falazes".

Alguns exemplos disto podem ser: "Há trinta anos, meu professor do ginásio me disse que a astrologia é uma superstição. Por isso, não vou perder tempo com ela. Fico com raiva quando as pessoas a levam a sério." Este indivíduo se apega religiosamente a seu ateísmo. (Ele tem quatro planetas na 9ª Casa.)
Outro disse: "Depois de ler a correspondência entre Freud e Jung, fiquei totalmente decepcionado com Freud. Ele não tem nenhuma profundidade. Fico chateado por ter que participar de cursos de psicologia freudiana para poder habilitar-me."

Dois exemplos tirados das religiões orientais: "Como budista que tem como meta a interrupção do ciclo de renascimentos, fico realmente espantado com o céu dos cristãos - uma ilusão. Essas pessoas são tão simplistas e supersticiosas quanto os camponeses analfabetos de meu país."
"Meu mestre me recomendou que não estudasse nem praticasse os exercícios de hatha ioga porque se baseiam no corpo e não se pode levar o corpo quando se morre. Essas pessoas estão de fato perdendo seu tempo."

O zelo sagitariano pode ser cego. Minha impressão é que o trabalho de purificação da 9ª Casa envolve uma expansão jupiteriana da consciência para além da estreiteza fútil, para além dos resíduos de fanatismo da infância nesta vida e mesmo, se os planetas da 9ª Casa estão em Signos Fixos, para além do fanatismo de vidas passadas. O antídoto para o zelo mal orientado, para a obstinação e para o comportamento arrogante está a 180° de distância, em Gêmeos. Hermes, regente de Gêmeos, lida com fatos mais do que com a emocionalidade e sabe muito bem que todas as filosofias contêm em si a verdade.

Todos nós participamos deste arquétipo. Mesmo que não tenhamos nada em Sagitário ou nenhum planeta na Nona Casa, temos Júpiter em alguma Casa do mapa. Poderíamos nos perguntar a respeito dessa Casa, "Sou presunçoso com relação a meus talentos? Sinto-me ofendido se sou desafiado nessa Casa? Lutarei cegamente para proteger meus interesses aí? Às vezes descanso sobre meus louros, nessa Casa? Fico apenas filosofando e sonhando com futuras conquistas?" Por experiência, posso afirmar que a pessoa precisa ter fé total nos assuntos da Casa de Júpiter, que deve lutar contra a tendência à procrastinação e que precisa deixar de esperar que coisas boas lhe aconteçam sem que para isso tenha aplicado o necessário esforço.

Pitágoras diz que o conhecimento, especialmente o conhecimento útil, impede a preguiça mental, aguça nosso discernimento e conduz ao bom senso. Penso que isso é importante para compreender o funcionamento do eixo da aprendizagem/comunicação que vai de Gêmeos a Sagitário:
"Portanto, conserva íntegro e sereno teu discernimento e nem por um instante te afastes de tua resolução.
A ofuscante pompa das palavras quase sempre engana, mas a persuasão suave conquista o que está disposto a acreditar."
Versos Dourados, #22

Como um signo de Fogo, Sagitário procura agir com base em suas decisões, alcançar um resultado, ultrapassar a posição hesitante de Gêmeos nas encruzilhadas da vida. (O aéreo Gêmeos pode ficar cismando em ambas as possibilidades de uma decisão até que a oportunidade vai bater à porta de outra pessoa.) Todavia, Sagitário muitas vezes lança mais calor do que luz sobre um assunto. O discernimento íntegro e sereno de Pitágoras está a 180° de distância, no signo oposto, esperando ser integrado. Para Pitágoras, o conhecimento útil incluía o estudo da ética e da filosofia para aperfeiçoar a discriminação, desenvolver a objetividade e aprender a analisar os dados como um signo Ar naturalmente faria. Se Sagitário desconhece a lógica, ele(a) pode tornar-se vítima da conversa fácil, entusiasta, volúvel e irrefletida de vendedores de Gêmeos inferior. Sagitário inferior, a mente preguiçosa, dá ouvidos ao Trapaceiro, o aspecto inferior de Gêmeos, que é capaz de deturpar e distorcer os fatos e de reunir o que na superfície é uma atraente e logicamente construída proposta de vendas. Um sagitariano preguiçoso, um comprador impulsivo, poderá dizer: "Por que ir à biblioteca e ler X, Y ou Z, ou sair por aí comprando? Sem dúvida, este é um vendedor inteligente que já fez a pesquisa de mercado por mim. Ele(a) conhece seu produto. Ele(a) está certo(a). Todas as pessoas 'avançadas' têm essas coisas, e eu também preciso de uma. Vou assinar o contrato de compra e daí sim posso ir às montanhas para o fim de semana." Porém, "a pressa é inimiga da perfeição", e na manhã seguinte, ele(a) perderá horas no telefone procurando desfazer o contrato em vez de ir para a montanha.

Discernimento íntegro e sereno é a reação da polaridade. Se o sagitariano tivesse se matriculado, digamos, em Lógica 101, ele(a) teria sido prevenido contra estatísticas adulteradas, contra argumentos provenientes de autoridade (todas as pessoas "avançadas" compraram isto) e contra generalizações deslumbrantes. No curso, ele(a) analisaria não apenas os anúncios da Madison Avenue (saboreie tal e tal cereal no café da manhã porque um famoso jogador de beisebol se alimenta dele), mas também se deteria sobre seu próprio pensar. Não simpatizo com os japoneses porque meu pai lutou na II Guerra Mundial? Construo minha filosofia de vida baseado no que as pessoas investidas de autoridade dizem ou analiso o que afirmam e formo minha própria visão - politicamente, religiosamente, etc? Na 9ª Casa, temas de Educação são especialmente proveitosos. Pitágoras também recomendava música (harmonia) e matemática como campos expansíveis que geravam um pensar objetivo.

Sagitário poderia tirar proveito da última parte do verso pitagórico, "e nem por um instante te afastes de tua resolução". Muitas vezes as pessoas se expressam a respeito de Sagitário desse modo: "Fiquei muito impressionado com essa pessoa quando a encontrei pela primeira vez. Ela era tão persuasiva, tão zelosa, tão convincente. Eu tinha certeza de que defenderia nossa causa na Prefeitura e que nos conseguiria um assentamento justo, mas parece que se cansou. Nosso São Jorge se distraiu e nunca investiu contra a cova do dragão." De modo particular, são os leoninos que dizem que não conseguem levar os sagitarianos a sério. Quando os sagitarianos se animam com alguma coisa, Leão pensa que estão Fixos ou decididos (assim como um Leão estaria), mas não estão. A progressão por Aquário acrescenta resolução Fixa e objetividade aérea ao indivíduo com planetas sagitarianos ou da Nona Casa.

O objetivo da filosofia é a verdade e a sabedoria, o Caminho Espiritual Pitagórico, e não a razão pela razão. Júpiter não é Hermes o estudante, o escriba. Pitágoras nos diz, "a arte de pensar aplicada a vários fins muitas vezes é um guia seguro, mas muitas vezes é também um guia que erra". Por isso, diz ele, é importante escolher "amigos sábios e virtuosos" e não ser obstinado, mas ouvir objetivamente seus conselhos e perdoar-lhes suas faltas para preservar a amizade. De acordo com Pitágoras, o espírito de contenda está dentro de todos nós esperando ser despertado; por isso, não devemos usar palavras que o despertem nos outros, mas antes instaurar e manter a harmonia. Às vezes passamos por experiências difíceis para aprender, mas: Jove (Deus) não é maldoso - "ele não atribula os bons". Nos tempos de dificuldade, "busca alívio na sabedoria, deixa que sua mão de cura mitigue tua aflição" (verso #19). Então, "Tua alma ferida à saúde restituirás, e livre estará ela de toda dor que antes sentia" (verso #66).

A Razão Correta (Gêmeos) está em oposição à Ação Correta (Sagitário) e a integração de ambas é função do eixo aprendizagem/comunicação, Casas 3 e 9, como também dos arquétipos Gêmeos/Sagitário. Com relação a isso, Pitágoras nos orienta um pouco mais em seus símbolos ou aforismos, no final dos Versos Dourados:

"Mantém a galheta do vinagre longe de ti" (verso #29). Para os gregos, o vinagre é o fel da sátira. O uso adequado da razão não deve implicar diminuir os outros com observações sarcásticas proferidas para ferir.
"Evita a espada de dois gumes" (verso #40). Para os gregos, isso significava uma língua maledicente. Somos orientados a evitar pessoas mexeriqueiras e caluniadoras.
"Não insufles o Fogo com uma Espada" (verso #5). Não digas nada que inflame pessoas que já mantêm desavenças entre si.
"Semeia a malva, mas nunca te alimentes dela" (verso #13). Seja brando ao julgar os outros, mas não ao julgar a si mesmo.

Com esses aforismos em mente, fiquei observando as pessoas num jantar festivo. Sagitário filosofava animadamente e de maneira muito geral sobre um tema a respeito do qual nada sabia. Ele atraía atenção das pessoas, mas duvido que causasse algum dano. Na manhã seguinte, algumas pessoas podiam lembrar o que ele havia dito. Gêmeos, por sua vez, no outro lado da mesa, fazia observações engraçadas, mas sarcásticas, sobre outra pessoa. Ela era muito divertida, mas suas palavras eram diretas, específicas e com grande possibilidade de serem lembradas. Este comportamento exemplifica Gêmeos inferior e Sagitário inferior. Pitágoras recomenda que não falemos "além de nosso conhecimento" e que "sejamos justos em palavras e atos". Nos primeiros cinco anos da escola de Pitágoras, os discípulos eram conhecidos como "ouvintes" e não podiam falar absolutamente nada. No sexto ano, os considerados preparados eram iniciados e podiam ensinar. Esse período de cinco anos de silêncio pode parecer exagerado hoje em dia. Mas o eixo Gêmeos/Sagitário muito freqüentemente fala demais, e o ouvir é uma parte importante da comunicação. Também a receptividade, a abertura do canal à sabedoria, é facilitada pelo silêncio.

O objetivo do filósofo é a Verdade (Sabedoria). Não podemos chegar à verdade dizendo mentiras como Hermes, o Trapaceiro, comunicando os fatos de uma maneira parcial ou dando a aparência de bondade à custa dos outros.
"Quando os Loucos e os Mentirosos se esforçam para convencer, permanece calado, e deixa que os linguareiros implorem em vão" (verso #23).
"Não permitas que nenhum exemplo, nenhuma língua macia te influencie com uma canção de sereia para causar mal à essência imortal de tua alma. Do bem e do mal expressos por palavras e ações, escolhe por ti mesmo, e escolhe sempre o melhor" (versos #24-27).
A verdade é mais do que a soma dos fatos de Gêmeos. Para Pitágoras, a verdade era a meta do caminho ético ou filosófico. Zeus, ou o "Quatro místico" (nosso glifo para Júpiter - (Y), era a chave. Nos Versos Dourados, Pitágoras nos diz que o Quatro místico é a "fonte da natureza eterna e do poder onipotente". Ele é "o que liga as partes e une o todo". Ele é as quatro estações - a totalidade do ano, e as quatro virtudes. Ele é as Quatro Idades do Homem - infância, juventude, idade adulta, velhice, a totalidade de sua vida. O Quatro é também chamado Quaternião. Em Psychology and Alchemy, C. G. Jung afirma que esse quaternião é o "espaço psíquico" do inconsciente que aparecia em muitos sonhos. Ele pode referir-se às quatro funções da psique: o pensamento, a emoção, a intuição e a sensação, ou ao processo de integração da função inferior.

Pitágoras e seus discípulos também praticavam a interpretação dos sonhos e muito provavelmente vivenciavam eles mesmos o espaço psíquico sagrado. Em astrologia, temos a Quaternidade de quatro quadrantes no horóscopo. Fazemos a leitura dos mapas e dos sonhos pelo lugar que os planetas ocupam nos quadrantes. No estudo dos sonhos, começamos a interpretação a partir do quadrante em que o sonhador está e daí traçamos seu movimento através dos outros. Como os pitagóricos e os sonhadores que Jung estudou, os astrólogos também têm um quaternião de quatro elementos: Ar, Terra, Fogo e Água. O Quatro parece ser universal. Os rituais dos índios americanos em geral se realizam em torno de um local sagrado disposto de acordo com os quatro pontos cardeais e na China a mandala do quaternião quadrado representa a Mãe Terra que deu à luz o cosmos. Desde sempre tem servido como um símbolo de meditação budista.

Pitágoras acreditava que a palavra Zeus era um mantra que significava Luz (iluminação) mas, mais do que isso, que era um mantra "místico" ou causativo - o primeiro princípio, poder ou energia que criou o cosmos. Os pitagóricos invocavam o nome de Zeus antes de começarem seu dia ou antes de qualquer empreendimento importante. Eles procuravam entrar em contato com a Fonte da energia e do poder criador. A astrologia esotérica preservou o ensinamento oculto de Júpiter e do Quatro não somente no glifo mas também na exaltação de Júpiter na 4ª Casa e no quarto signo.

Em astrologia, geralmente utilizamos Júpiter em fase de transição para responder a questões sobre mudanças e viagens de longa distância - sobre o movimento no mundo exterior. Entretanto, a tradição esotérica vivenciou Júpiter, por meio dos sonhos e da meditação, como espaço interior, como o que Jung denominou espaço psíquico. Na índia, os astrólogos consideram Júpiter como o Guru. Na Casa em que o nosso Júpiter se encontra, e na Casa com Sagitário na cúspide, se conseguirmos superar traços negativos como orgulho, extremismos (comportamento incontrolado) ou arrogância e os substituirmos pelas virtudes pitagóricas da temperança, prudência, humildade e justiça, estaremos no caminho da nossa meta. Já temos as bênçãos de Deus para ajudar-nos através da presença de Júpiter naquela Casa.

Os dons de Júpiter (incluindo a sabedoria e a compreensão) mencionados no Versos Dourados e nos comentários são semelhantes aos dons do Espírito Santo do cristianismo. A Busca de Leão do Self individual resultou numa experiência de plenitude e criatividade pessoal. O Caminho da Purificação de Pitágoras expande-se para além do Self individual na direção do Espírito universal e da imortalidade. A experiência de Sagitário completa a Tríade de Fogo de Corpo, Alma e Espírito.

O Quatro é um cubo sólido. Na geometria pitagórica, é a primeira figura sólida. Ele simbolizava a Terra ou a matéria para os gregos e para os chineses. A matéria é o chão sólido - o fundamento, a pedra angular, o Nadir. A Terra é o regente esotérico de Sagitário. Através de sua filosofia do equilíbrio, chamado de Meio Dourado, Pitágoras procurava dar embasamento a seus jovens discípulos, àqueles buscadores ardorosos, Mutáveis, de espírito livre. No livro Autobiography of a Yogi, Paramahansa Yogananda narra sua primeira experiência do Espírito de Deus como bem-aventurança inexaurível. Quando voltou à Terra depois da visão, seu Guru, Sri Yukteswar, disse: "Muito ainda lhe resta no mundo. Venha; vamos varrer o soalho da sacada; depois passearemos ao longo do Ganges." Yoganandaji disse que seu mestre lhe estava ensinando o segredo do viver equilibrado - manter a cabeça nas nuvens e os pés no chão.

Há três signos Terra. O primeiro, Touro, tem relação com o valor. O ensinamento esotérico era: tem apreço por tua própria alma acima de tudo. Não faças nada por palavra ou ação para prejudicar a alma. No nível mundano, Touro significa "não sejas perdulário nem avarento". Virgem, o segundo signo Terra, representa a humildade. No aforismo #50, Pitágoras diz, "Quando troveja, toca o chão." Quando Júpiter (Deus) manifesta sua ira por meio de alguém, em vez de instintivamente revidar com agressividade, reage com humildade - toca o chão. Capricórnio, o terceiro signo Terra, está associado ao planejamento do futuro. Sem isto, nenhum sonho pode se concretizar. Terra também tem relação com o corpo. O Meio Dourado demandava exercícios diários, abstinência de carne, descanso suficiente e "satisfação prudente das necessidades do corpo".

Quando os textos de astrologia esotérica falam de Sagitário como Espírito ou quando pensamos em Sagitário como o estágio final de uma purificação alquímica, isto parece muito fácil. O próprio Zeus ficou dois ou três meses claudicando dolorosamente antes de dar à luz seu divino filho Dioniso, a quem havia carregado em sua coxa. Histórias de fontes hindus, do Antigo Testamento e também da mitologia grega associam o quadril ou a coxa, a parte sagitariana do corpo, com a obtenção da sabedoria e da compreensão.

Liz Greene encontrou uma correlação entre clientes sagitarianos e lesões nos quadris. Entre minha própria clientela detectei uma correlação entre quadris desarticulados dolorosos e a necessidade de tirar tempo para refletir, para granjear compreensão, para pensar sobre sua própria filosofia de vida ou para entrar em contato com o Espírito dentro de si. Percebi essa tendência para problemas nos quadris e ciática principalmente entre clientes mais idosos desprovidos desse foco interior.

Quer se trabalhe pela purificação através da meditação, da introspecção ou da interpretação dos sonhos, o processo quase sempre começa com uma lesão na parte sagitariana do corpo - a ferida de Quíron.
No Gênesis 32:24-30, Jacó sonhou que tinha lutado corporalmente uma noite inteira com um estrangeiro (anjo) e que só no romper do dia, quando o estrangeiro tocou a coxa de Jacó e a deslocou, é que ele foi capaz de vencer. No fim do sonho, Jacó pediu ao estrangeiro que o abençoasse e recebeu um novo nome -'Israel, príncipe sobre os homens. Ele deu ao lugar do sonho o nome de Fanuel, que significava "Vi Deus face a face e minha vida foi preservada". Depois Jacó "manquejava de uma coxa", como Zeus e o centauro Quíron.

Júpiter representa a Verdade, a Sabedoria, a Justiça, e também nosso direito inato à felicidade. Um dos versos mais belos do Versos Dourados é "... Alegrias sobre Alegrias aumentarão sem cessar; a Sabedoria coroará teus Labores, e abençoará Tua Vida com Prazer e Teu Fim com Paz" (versos #31, 32).


Questionário

Como o arquétipo Sagitário se expressa? Embora diga respeito de modo especial às pessoas com o Sol em Sagitário ou Sagitário ascendente, qualquer pessoa pode aplicar esta série de perguntas à casa em que seu Júpiter está localizado ou à casa que tem Sagitário (ou Sagitário interceptado) na cúspide. As respostas a estas questões indicam até que ponto o leitor está em contato com seu Júpiter, sua natureza expansiva, seus instintos sagitarianos.
1. Meu estilo de comunicação é direto como uma seta - direto e certeiro
a. geralmente.
b. muitas vezes.
c. raramente.

2. Quando sob pressão, tendo a perder o controle
a. 80 - 100% das vezes.
b. 50 - 80% das vezes.
c. 25% das vezes, ou menos.

3. Não consigo ver o valor de virtudes negativas como a humildade, a prudência, a moderação e a temperança
a. a maioria das vezes.
b. 50% das vezes.
c. 25% das vezes, ou menos.

4. Entre minhas melhores qualidades incluo a honestidade, a integridade, a imparcialidade, o otimismo e a generosidade
a. em geral.
b. aproximadamente 50% das vezes.
c. 25% das vezes, ou menos.

5. Entre as minhas características negativas eu provavelmente citaria a procrastinação, a incapacidade de fazer coisas até o fim (fico entusiasmado no início de um projeto mas me desvio facilmente) e o fato de ser extravagante com
dinheiro, com comida e com muitos compromissos em empreendimentos grupais
a. 80% das vezes, ou mais.
b. 50% das vezes.
c. 25% das vezes, ou menos.

6. Meu maior medo é
a. ser vítima de injustiça.
b. a possibilidade de ferir os sentimentos alheios.
c. a possibilidade de alguém ver meu lado escuro.

7. O maior obstáculo a meu sucesso provém
a. das pessoas que me cercam.
b. de dentro de mim mesmo.
c. de circunstâncias fora de meu controle.

8. Sinto que a parte mais fraca do meu corpo - a parte que me causa maiores problemas - é
a. o quadril, o nervo ciático, o fígado.
b. meus pés.
c. pescoço e ombros.

9. Os interesses sagitarianos como viagens, algumas formas de jogo (ações da bolsa, pistas de corrida, Las Vegas, bingo), filosofar, opulência são
a. muito importantes.
b. moderadamente importantes.
c. nada importantes.

10.  Considero meu trabalho
a. algo que faço para pagar as contas entre dois períodos de férias.
b. bem adequado à minha personalidade; ele me possibilita fazer muitas viagens.
c. a prioridade da minha vida.

Os que marcaram cinco ou mais respostas (a) estão em contato estreito com Júpiter no nível mundano. Os que têm cinco ou mais respostas (c) podem estar em movimento para a extremidade polar, Gêmeos, e precisam ser mais expansivos. Se Sagitário não se sente generoso, social, ou se prefere jogar a trabalhar, Júpiter natal pode estar retrógrado ou na Décima Segunda Casa. Isto tende a enfatizar a metafísica em lugar de uma atividade social extrovertida. Os que responderam (b) à questão número sete estão mirando a flecha do arqueiro no interior de si mesmos. Muito provavelmente Saturno está em conjunção, em oposição ou em quadratura com seu Júpiter.

Onde está o ponto de equilíbrio entre Sagitário e Gêmeos? Como Sagitário integra os dados fatuais no panorama maior? Sagitário tem sido acusado de olhar por alto seu ambiente imediato - o que se passa sob seu nariz - para acompanhar o que acontece em países distantes. Embora este assunto se refira de modo particular aos que têm o Sol em Sagitário e Sagitário ascendente, todos temos Júpiter em algum lugar do nosso horóscopo. Muitos têm planetas na Nona ou na Terceira Casa. Para todos nós a polaridade de Sagitário a Gêmeos implica habilidade de sintetizar e de analisar dados - de integrar os dados no quadro geral e de nos comunicarmos bem com os outros.

1. Quando crio um novo projeto visualizo o quadro geral global. Daí esqueço tudo. Programo uma série de intervalos de modo a poder voltar ao trabalho descansado. Não me preocupo com os detalhes - geralmente deixo os detalhes
para outras pessoas
a. nunca.
b. algumas vezes.
c. a maioria das vezes.

2. Acredito que as "situações alteram os casos"
a. geralmente.
b. às vezes.
c. nunca.

3. Gosto de
a. apenas viagens curtas.
b. viagens curtas e também longas.
c. viagens longas, ultramarinas.

4. Interesso-me mais pela letra da lei do que pelo espírito da lei
a. a maioria das vezes.
b. 50% das vezes.
c. não faço distinção entre ambas.

5. Minha educação superior inclui
a. uma licenciatura curta.
b. um bacharelado.
c. um curso de graduação.

6. Embora faça amizade facilmente, parece difícil manter os amigos antigos por muito tempo. Penso ser este o caso
a. nunca.
b. às vezes.
c. freqüentemente.

Os que assinalaram três ou mais respostas (b) estão fazendo um bom trabalho com relação à integração da personalidade na polaridade Sagitário/Gêmeos. Os que têm três ou mais respostas (c) precisam trabalhar mais conscientemente no desenvolvimento de Mercúrio natal em seu horóscopo. Mercúrio/Hermes era
"amigo e companheiro da humanidade". (Veja capítulo sobre Gêmeos.) Os que marcaram três ou mais respostas (a) podem estar fora de equilíbrio na outra direção (Júpiter fraco ou pouco desenvolvido). Estudem Júpiter e Mercúrio no mapa natal. Existe algum aspecto entre eles? Qual deles é mais fortes por posição de casa ou localização em seu signo de regência ou de exaltação? Algum deles está retrógrado, interceptado, em queda ou em detrimento? Aspectos do planeta mais fraco podem ajudar a indicar o modo de sua integração.

O que significa ser um sagitariano esotérico? Como Sagitário integra a prática Terra, seu regente esotérico, na personalidade? Sagitário estará em progressão por Capricórnio e ficará mais com os pés no chão devido à responsabilidade pelos negócios e/ou pela paternidade (maternidade). Depois que o espírito de aventura arrefece, alguns sagitarianos interessam-se mais pelos assuntos esotéricos e voltam a olhar para o interior em vez de concentrar sua energia prioritariamente no mundo exterior. O regente de Sagitário, a Terra, favoreceu este arquétipo com disciplina, com concentração e alicerçamento para observar com atenção e superar a inquietude que distrai o arqueiro de seu alvo - o Espírito. As respostas às perguntas que seguem indicam até que ponto Sagitário está em contato com seu regente esotérico.

1. Em vez de mergulhar no conflito de cabeça, reúno todos os fatos e os analiso antes de agir
a. 80% das vezes, ou mais.
b. em torno de 50% das vezes.
c. 25% das vezes, ou menos.

2. Para ser totalmente honesto, eu precisaria dizer que a rudeza de minha linguagem, quando acontece, machuca os outros
a. quase sempre.
b. muitas vezes.
c. quase nunca.

3. Penso que o esforço sustentado que faço todos os dias na direção do objetivo é
a. tão importante quanto compreender o significado do objetivo.
b. não tão importante quanto compreender o objetivo em sua totalidade.
c. definitivamente não tão importante quanto a visão do quadro geral.

4. Minhas decisões baseiam-se no senso comum mais do que no impulso
a. 80 - 100% das vezes.
b. 50% das vezes.
c. 25% das vezes, ou menos.

5.  Concordo com as virtudes da justiça, prudência, temperança e moderação e as pratico no falar e no agir
a. 80 - 100% das vezes.
b. 50% das vezes.
c. 25% das vezes, ou menos.

Os que têm três ou mais respostas (a) estão em contato com seu regente esotérico. Os que têm três ou mais respostas (b) precisam trabalhar mais na integração da Terra prática e também em abordar as situações com menor impulsividade e mais prudência (combinando ação correta com compreensão correta). Os que responderam (a) às perguntas quatro e cinco, entretanto, podem ter Júpiter retrógrado ou na Casa Doze. No caso da questão quatro, podem não ter espontaneidade e podem considerar a si mesmos financeiramente sem sorte, especialmente se há um aspecto Saturno/Júpiter áspero. No caso da pergunta cinco, devem não apenas concentrar-se na ética e na filosofia mas podem também precisar fazer um esforço maior no mundo material. Se Júpiter está voltado para dentro (retrógrado), aspectos positivos de outros planetas em geral são uma chave para desenvolver o magnetismo social e financeiro de Júpiter.

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