segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Touro

TOURO -  A busca do valor e do sentido

Como símbolos para a Era de Touro (2500-1500 a.C.) temos o touro, a deusa e Buda. Vênus/Afrodite é o regente mundano, e Vulcano/Hefaístos, o esotérico. Fonte fecunda do simbolismo do touro e da deusa lunar é a obra Primitive Mythology, de Joseph Campbell.
Ele põe à nossa disposição muitos dados referentes à Deusa de Creta e a seu consorte-touro. Ele exemplifica com Europa e o touro na Grécia continental, Inana e seu touro na Suméria e, obviamente, Parsífae, esposa do Rei Minos, que se apaixona pelo Touro Celeste de Poseidon em Creta.

A história minóica do Minotauro no labirinto é talvez o mito mais famoso da deusa e seu consorte. Campbell menciona que "o quadrante taurino no mundo" estendia-se do início até meados do Período do Bronze, desde o Vale do Indo na índia, passando pelo Irã, por Creta, por Micenas na Grécia continental, até Stonehenge na Inglaterra.
A conexão entre o touro e a deusa é muito importante para o astrólogo porque o glifo de Touro(s) é constituído pela cabeça redonda de um touro encimada por uma lua crescente às avessas. Há uma influência duplamente feminina em Touro - o regente mundano é Vênus e a Lua está em exaltação neste signo.

Com a dupla influência feminina, temos a receptividade da Mãe Terra que Isabel Hickey descreveu como "a terra recentemente arada da primavera, pronta para receber a semente".

Passiva, paciente e plácida, a terra de Touro é sexualidade fértil e fecunda. Como o regente mundano, instintivo, de Touro, Vênus, o princípio de atração, tem um forte magnetismo físico. Como Linda Goodman afirmou, "Touro", esta energia não é sexualmente agressiva, mas prefere atrair os outros mais do que persegui-los.

Touro é associado à reprodução biológica e a outros tipos de criatividade. Essa relação de Touro com o feminino pode parecer-nos estranha, no século XX. Hoje, quando pensamos nesse animal, nossas primeiras associações, muito provavelmente, são masculinas. Nossa tendência é pensar em touros reprodutores e toureiros "machos". Nos tempos que vivemos, o touro está investido de uma autoridade masculina definitiva, não estando mais associado à Mãe.

No sul da índia, o templo de Tanjur abriga uma estátua gigantesca de Nandin, o Touro, considerado o veículo da divindade masculina, o Senhor Shiva. Nos tempos pré-arianos, a Era de Touro, Nandin era esposo de Sati, deusa do amor e da lealdade matrimoniais. Sua estátua em Tanjur, como muitas estátuas de touros da Idade do Bronze, tem uma expressão suave, delicada, quase feminina.

O templo está repleto de lingas com forma de falos, símbolos da fertilidade e da criatividade biológica. Nandin representa o lado masculino da Mãe Terra. A Deusa Durga, montada num leão, perseguiu e matou um touro selvagem num sacrifício ritual para garantir a fertilidade da Terra.

Os ritos sacrificiais de touros ou a perseguição de touros por cães, na índia, são mencionados no Markandaya Purana e no Chandi Purana. Algumas das edições ilustradas das histórias dos puranas reproduzem em escala pequena as pinturas rupestres da Deusa Durga, a fase escura da Lua, cavalgando sua feroz leoa, em perseguição ao touro, que será o sacrifício ritual.

No nível mundano, este sacrifício de um animal poderoso, sexualmente potente, tinha a intenção de fertilizar a Mãe Terra com seu sangue para a estação da semeadura seguinte. Espiritualmente, essa questão do sacrifício da Idade de Touro continua até o presente como pertinente para os buscadores do eixo Touro/Escorpião.

Tentam eles eliminar seus desejos, especialmente seus desejos sexuais, num mosteiro? Devem manter-se celibatários para entrar em contato com sua criatividade taurina? Devem chegar ao extremo da reclusa polaridade de Escorpião que sublima sua energia totalmente em seu trabalho? Ou podem eles agradar a Deus e também ser pessoas artisticamente criativas, "indenes" nas rodas sociais a que Vênus/Afrodite, regente de Touro, os chama?
Talvez os cretenses, com sua visão de "montar" ou de domar o Touro físico da Mãe, o corpo e seus instintos, estivessem corretos. Os zen-budistas, com seu enfoque do boi ou Touro da Mãe, tinham uma idéia parecida e também, como os cretenses e persas, dispunham de técnicas para controlar o touro.

A mitologia mais elevada da Idade de Touro talvez seja a do Senhor Krishna e das gópis, as pastoras de vacas do norte da índia. Em seu Gnostic Circle, Patrizia Norelli-Bachelet afirma que Krishna era o Avatar (Messias) da Idade de Touro na índia.

Na arte e no mito, ele estava constantemente rodeado por jovens mulheres que suspiravam pelo som de sua flauta como a alma anseia pela realização do Divino ou do Espírito. A constância e lealdade, como também a receptividade das gópis, parece característica da Lua em Touro, sua exaltação simbólica. A Lua reflete a luz do Sol, e as almas das gópis refletiam o Espírito, o Senhor Krishna.

Embora muitas pessoas com a Lua em Touro reflitam o interesse taurino por segurança emocional e financeira em sua natureza de desejo e em seu comportamento, há algumas que desdenham o mundo e procuram somente agradar o Divino, como faziam as gópis. Há muitas outras cuja natureza lunar reflete a inércia ou, como os hindus o chamam, o tamas de Touro.

Na primeira metade de suas vidas, elas sacrificam o touro de seus próprios talentos criativos aos horários e rotinas de outras pessoas. Depois, começam a sentir-se vagamente insatisfeitas. Deram muito de si desempenhando profissões de sustentação dos outros, muitas vezes em instituições voltadas para a saúde ou para o ensino, ou dando apoio, financeiro ou moral, a membros da família.

Freqüentemente, na meia-idade, pessoas com a Lua em Touro ou com o Sol em Touro e Touro ascendente sentem-se desapontadas com o pouco esforço que, ao longo dos anos, puseram a serviço do desenvolvimento dos seus próprios talentos criativos, psíquicos ou espirituais. "Quem me deu apoio para meus dons?" é a pergunta que surge na maioria das vezes. "Você pediu a alguém alguma ajuda?" é, sem dúvida, parte da resposta.

Há uma inércia muito clara em Touro, o signo de Ferdinando, o Touro, pastando enquanto os anos passam. Todavia, Touro se sente frustrado, pouco estimado, às vezes até mesmo passa despercebido por aqueles a quem tanto deu e a quem está tão apegado. (A Lua em Touro caracteriza um apego duas vezes maior às pessoas, lugares, e coisas, porque a Lua em Touro reflete as qualidades da natureza EU TENHO.)

Ao ouvir as lamúrias dos taurinos ao longo dos anos, taurinos que na meia-idade sofrem a influência dos planetas exteriores (especialmente Saturno, ou o Pai Tempo) que se opõem a Touro e se fixam "no que poderia ter sido", lembro-me do ditado chinês que diz que "a Lua não conhece sua própria beleza".

Servir aos outros parece ser parte do carma dos signos de Terra na primeira metade da vida. A maioria das pessoas com a Lua em Touro cumpre essa parte a contento. Mas como as oposições ocorrem a partir da polaridade introvertido/introspectivo de Escorpião, é muito provável que Touro pergunte, "A que sacrifiquei eu o touro de meus desejos? de minha vida pessoal? ou de minha criatividade?" A energia social de Afrodite que os arrastou ao mundo extrovertido, ativo, se desvanece, e a energia e a paixão contidas de Plutão e de Escorpião os impelem para o interior.

Eles se satisfazem com poucas pessoas e preferem passar mais tempo solitários. A pessoa com a Lua em Touro, de modo particular, quer descobrir sua própria beleza na relação com as outras pessoas, ou às vezes totalmente só na corrente dos trânsitos de retirada de Plutão/Netuno. "Para tudo há um tempo debaixo do céu." Isto com freqüência se demonstra vendo os indivíduos de Touro/Escorpião indo de um lado para outro, de posses acumuladas, à renúncia, à coleção de coisas, e assim por diante.

O significado psíquico ou espiritual do touro de Touro, e especialmente da Deusa Lua e o touro, provém da associação do boi Ápis do Egito com a profecia. A civilização da Idade do Bronze do Vale do Nilo, no Egito, é muito semelhante à do Vale do Indo, na índia, à de Stonehenge, na Inglaterra, e à cultura minóica de Creta.

A Deusa reinou suprema sobre os campos com seu consorte fecundamente potente, o touro. Em torno de 1600 a.C, os egípcios adoravam um boi que, diziam, havia nascido à meia-noite no lado escuro da Lua (fase da lua nova), e por isso é representado artisticamente como tendo uma lua crescente entre os chifres.

O boi Ápis real usado para os rituais de fertilidade era escolhido porque tinha uma lua crescente em seu flanco. Ele era preto como o negro da Lua. Às vezes tinha uma forma de águia num dos flancos. Algumas fontes dizem que o boi Ápis lunar foi sacrificado e outros que morreu de velho, mas todos concordam em que depois da sua morte ele ficou conhecido como Osíris ressuscitado.

Este mesmo touro especial era considerado um oráculo. Se lambesse a roupa de um astrônomo, por exemplo, considerava-se que o homem morreria em pouco tempo. Assim, simbolicamente havia uma forte ligação entre o touro lunar e o dom da profecia.
Muitas pessoas com a Lua em Touro também têm dons psíquicos. 

Algumas, sem nenhum tipo de estudo anterior, podem deixar seu olhar desfocado e ver auras coloridas ao redor de outras pessoas e também dos animais. Um homem me perguntou, "Qualquer pessoa poderia fazer isso, se tentasse?" Presumivelmente, qualquer pessoa tem condições de desenvolver essa habilidade através do exercício prolongado de uma técnica, mas não espontaneamente, desde a infância, sempre que se sentisse inclinada a agir desse modo.

Assim, há nas pessoas com a Lua em Touro muito talento psíquico, receptividade espiritual, e também potencial devocional a ser explorado; as pessoas do signo de Touro, ou com a Lua em Touro ou Touro Ascendente caracterizam-se por ter uma habilidade artística latente.
Entretanto, Touro deve antes sacrificar suas inseguranças e inibições interiores e acreditar em seu próprio talento em vez de ficar na dependência do constante incentivo e encorajamento de outras pessoas. O processo é favorecido quando o período de infância foi uma experiência positiva - quando a Mãe (simbolicamente, a Deusa Lunar de Touro exaltada ideal) acreditava nos dons do filho taurino e os alimentava.

Se este não foi o caso, muito provavelmente se faz necessário um ciclo hefaístico de trabalho interior, com o desenvolvimento da habilidade da pessoa para acreditar em seus dons femininos, criativos e intuitivos lunares antes de poder concretizar suas potencialidades. Este aspecto do papel de Hefaístos como regente esotérico será desenvolvido abaixo.

É interessante observar que mais tarde, na Idade patriarcal dos Heróis, mesmo o touro solar, Amon-Rá, uma encarnação do deus Sol, era conhecido como "o touro de sua mãe". Temos, por exemplo, este belo hino:

"... a Amon-Rá, o touro de Heliópolis
que preside a todos os deuses,
deus benevolente e amado,
doador do calor da vida a todo rebanho viçoso.
Salve, Amon-Rá,
Senhor dos tronos de ... Tebas
Touro de sua mãe,1
Comandante dos campos...
Senhor do firmamento,
Filho primogênito da terra,
Senhor de tudo o que existe,
Ordenador das coisas
Ordenador de todas as coisas."

O touro era, assim, o símbolo da fertilidade e da força, símbolo esse que, no Egito e em outros lugares, ficou associado à realeza e ao masculino; mas no início da Idade do Bronze ele era ou o cônjuge da Deusa, ou o Touro de sua mãe, e na arte era representado junto a ela do mesmo modo como figurava nos afrescos cretenses (Jack R. Conrad, The Horn and the Sword). A Lua e Afrodite (energia feminina dual) parecem dominar a Idade do Bronze no mundo todo.

Há um fato interessante relativo às civilizações taurinas - a presença de Vênus nas artes, desde a graça e beleza dos afrescos em Creta e Micenas até as linhas arquitetônicas do palácio de Knossos. Os trabalhos em ouro da joalheria de Creta, expostos no Museu Histórico de Atenas, têm uma indisfarçável delicadeza venusiana, um toque feminino.
Não há hordas de guerreiros (heróis a cavalo) pilhando e tiranizando na Era de Touro. O interior do continente é relativamente calmo. A ilha de Creta, por exemplo, é isolada e livre de invasores, exceção feita, naturalmente, aos invasores subterrâneos - os vulcões e os terremotos. Foi um terremoto que supostamente devastou o palácio do rei Minos (o local do mito do Minotauro).

Afirmava a lenda que foi Vulcano, ou Hefaístos, o feio ferreiro coxo em sua forja debaixo da terra, que destruiu o confortável mundo que pertencia à Deusa e a seu touro em Creta. O monstro Minotauro é também uma espécie de imagem de Vulcano. A besta horrível é parcialmente divina e não deve morrer; ela deve viver na solidão para gravar seus cascos na prisão labiríntica e sacudir a terra com sua força.

Nikos Kazantzakis, autor do The Life of St. Francis, que, quando criança em Creta, ao assustar-se por um tremor subterrâneo, alguém da família lhe diria com toda seriedade: "É o Minotauro. É o touro de Minos escarvando e bufando debaixo da terra." O mito continua vivo em sua terra natal.

Afrodite foi dada por Zeus em casamento a Hefaístos/Vulcano - a Beleza unida à Besta. O regente mundano de Touro unido ao esotérico. O deus anão cujo martelo causa mudanças abruptas (até mesmo o caos) ligado por laços matrimoniais à deusa da harmonia, da paz e da ordem.

Pergunte a qualquer taurino como ele se sentiria se houvesse um terremoto que devastasse sua casa e todas as suas coisas "colecionáveis" - suas belas posses. A Lua exaltada em Touro provavelmente responderia com mais veemência do que o Sol em Touro, a partir de um apego mais profundo, mais emocional ao conforto, à segurança e à beleza. Destruição repentina das estruturas da pessoa, tão cuidadosa e solidamente construídas, sentindo-as todas desabarem ao seu redor - este é o impacto de Vulcano sobre Touro.

Hefaístos trabalha sob a superfície da carreira do negociante "bom provedor" taurino. Um astrólogo geralmente encontra um homem de Touro pela primeira vez quando seu patrão o pressionou a aposentar-se ou quando a falência assoma à frente. Vulcano esteve trabalhando.

Se considerarmos o aspecto materialístico/mundano de Afrodite regendo a Terra no signo de Touro, podemos perceber uma certa decadência, um tanto semelhante à decadência das últimas fases da arte da Idade do Bronze em Creta -as damas usando jóias faustosas e ricas vestimentas da corte de Knossos, como figuradas nos afrescos.

Às vezes a complacência do Touro bem-sucedido parece convidar Vulcano a realizar seu trabalho contra as forças da inércia. A estrutura parece repentinamente entrar em colapso a partir de dentro. E o bom provedor taurino sente-se emocionalmente desolado. Afrodite é um regente muito emocional.

Um homem de Touro com essas características disse, "Não compreendo isso. Minha esposa encontrou um homem rico e quer me deixar. Ela pensa que não lhe dou a devida atenção porque preciso ganhar dinheiro. Parece que ela não entende que trabalho tão duramente para prover os recursos necessários a ela e aos filhos de modo que possam ter uma vida de qualidade, obtendo o melhor que o dinheiro pode comprar. Exatamente no momento em que, por fim, penso que consegui tudo isso para minha família, eu a perco, e por razões que não consigo sequer imaginar. Estou estupefato!"

Afrodite é uma deusa que gosta da qualidade - a melhor. O problema é que os taurinos têm dificuldade para compreender o significado de qualidade. Se a busca no nível mundano toma todos os seus recursos de tempo e energia, então não lhes sobra muito de si mesmos para dar; Vulcano irrompe em algum trânsito a Vênus/Afrodite e ameaça a segurança das relações de Touro, sejam pessoais, sejam financeiras.

O regente esotérico apresenta características acentuadas de Escorpião no que se refere às suas explosões subterrâneas. Seu poder de provocar mudanças turbulentas é reminiscência do signo da extremidade polar. Touro e Escorpião têm a ver com os recursos, tanto interiores quanto materiais, e com as possibilidades.

A pergunta que se faz, então, é a de saber se uma pessoa de Terra fixa pode ou não manter suas estruturas suficientemente flexíveis para suportar as alterações de Vulcano. Pode ela projetar uma vida como os arquitetos projetam prédios com propriedades específicas para a região da falha geológica de Santo André - com os prédios balançando com os movimentos dos abalos sísmicos?

Pode Touro lidar com o lado complacente, indolente, satisfeito e confortável de Afrodite, visto que ela pensa: "Consegui fazê-lo?" Pode o taurino trabalhar com a qualidade interior da vida e também com a material/exterior?

Estas são algumas questões pertinentes. Como regente da Segunda Casa no zodíaco natural, a casa dos valores pessoais, Vênus necessita de satisfação interior e também de expansão no mundo exterior, material.

Outra questão, dirigida mais para as pessoas com a Lua em Touro, seria: Minhas posses me possuem? Consigo fazer uma longa viagem sem me preocupar com elas? Conseguiria eu alugar minha casa a uma família desconhecida se minha empresa me enviasse ao Oriente Médio por seis meses? Estou livre ou preso ao mundo material? Sou uma personalidade dependente? Apego-me possessivamente a meu namorado ou a meus filhos, em vez de deixá-los livres para cometerem seus próprios erros na vida?

Se considerarmos Touro como a prima matéria (matéria-prima ou argila de modelagem) e a Lua como forma (como Platão a chamou), podemos ter a impressão de uma dose dupla de receptividade na Lua de Touro. Podemos encontrar uma pessoa forte que se torna dependente de outro ou de outros e cuja dependência pode alienar o outro e causar claustrofobia.

Muitas dessas questões relativas à possessividade, aos relacionamentos dependentes e ao tolhimento da liberdade dos outros aplicar-se-iam a pessoas com Touro ascendente. No caso de Áries regido por Marte, havia uma emissão espontânea de energia. O herói ígneo encarava confrontação direta na busca e com ela se aprazia. Mas Touro, regido por Afrodite, reflete sua influência mais gentil, mais serena, mais feminina. Touro comunica desprazer indiretamente. Afrodite não quer "fazer cenas" - o que seria muito vulgar e nada harmonioso.

O livro de Linda Goodman, em que ela analisa o patrão de Touro, o patrão taurino contrata uma nova funcionária que gasta duas horas no almoço. O patrão se mostra taciturno por alguns meses, mas não diz nada. A nova empregada deveria perceber sua aparência de descontentamento, mas não percebe, e continua a agir do mesmo modo. Ela também se torna descuidada com a revisão da sua datilografia.

Um belo dia, ela o encontra defronte de sua escrivaninha remexendo os papéis, esbravejando, batendo os pés como o Minotauro. Ao encaixotar suas coisas, depois de ser despedida, ela sacode a cabeça perplexa dizendo a si mesma: "Por que ele não disse que essas coisas o aborrecem? Uh, lá, lá, como é que eu poderia saber isso? Quero dizer, quem pensaria que ele se preocupava?" "Tenha cuidado com a cólera do homem paciente!", diz o provérbio. Um vulcão não entra em erupção com muita freqüência; ele vai acumulando ao longo dos anos e então explode. É assim também que a raiva de Touro muitas vezes se manifesta.

Aqui os taurinos podem aprender do regente do signo de sua extremidade polar, Escorpião. Os nativos de Escorpião também se comunicam indiretamente. Mas um Escorpião no cargo de direção geralmente manifesta seu Marte (humor) se você chega atrasado ao trabalho todos os dias.

Como ocorre com todos os signos, quanto mais consciente é o taurino, mais ele se esforça para integrar o signo de sua polaridade e para trabalhar conscientemente com o poder do regente esotérico. Se Touro está conscientemente harmonizado com Vulcano/Hefaístos, com menor probabilidade ele irá explodir no subterrâneo, fazendo demonstrações do furor de um touro enlouquecido. Como então pode Touro sintonizar com as qualidades positivas de Hefaístos?

Sacrificando o touro do apego e removendo o véu da Deusa Inana, deixamos para trás a árida e ressequida Terra (Touro), como o fez Inana, para penetrar no mistério desconhecido, as profundas águas escorpiônicas do inconsciente. Muitas vezes a falência, o divórcio, ou a "sensação de ninho vazio" quando o último filho deixa o lar para casar-se (a negação de um forte desejo pelo mundo exterior num trânsito semelhante ao de Vulcano) irão precipitar a descida de Touro às profundezas de Escorpião.

Sylvia Brinton Perera analisou isso muito bem em Descent of the Goddess, quando afirmou que a energia liberada de uma parte da psique pela liberação de uma forma exterior - um apego - irá emergir novamente em outra parte da psique. A vida não é algo fixo e imóvel, mas sim um processo em constante mudança e desenvolvimento.

É assustador pôr de lado a velha persona. "Sou uma mãe de cinco filhos muito solicitada." "Sou o presidente de um banco." "Em pouco tempo eu seria doutor em Medicina ou PhD."
O sacrifício, entretanto, retirou Touro da estaca em que estava preso (fixo) à semelhança de Inana no inconsciente. Quando, após descansar e relaxar no aquietado ciclo da introversão - no trânsito de Netuno ou Plutão - a taurina Inana surge novamente à luz do dia, não há como dizer quais os poderes criativos que trará consigo.

Inana desceu aos infernos para presenciar o sacrifício de um touro, e foi acompanhada por diversos escorpiões; assim o mito parece estar de acordo com a integração desta polaridade, em seus ciclos social e de isolamento - sua concentração na matéria e no espírito em diferentes períodos no decurso da vida.

Para Inana, o touro parece ter servido de bode expiatório pelos desejos dela não realizados. Ela queria casar-se com outra pessoa e não com a que fora escolhida pelo Deus Sol para ela, mas aquiesceu à decisão masculina dele sem objeção. Ela sacrificou seus próprios sentimentos, sua intuição e seus valores; isto exigiu a descida, a reenergização e a cura.

Touros que dão ouvidos à voz do Deus Sol - a mente racional - às custas de seus valores, sentimentos e intuições subjetivos raramente são felizes. Este é um signo duplamente feminino.

O Touro de Inana é também "as balas de Inana" - sua coragem, sua capacidade de decisão, sua raiva, sua habilidade de enfrentar as dificuldades da vida. Empatada numa estaca (símbolo fálico), ela parece ter recuperado sua luta. Sempre ouço falar de taurinos do tipo passivo, presos num ciclo negativo, que têm sonhos violentos, ou sonhos em que se vêem despindo-se - tirando suas velhas personas - de modo que todos possam vê-los como são.

Também no mundo exterior a complacência taurina fica fragmentada depois que uma série de sonhos dessa espécie tem início. O resultado final do ciclo de morte e renascimento de Escorpião é geralmente positivo, entretanto, e às vezes dramaticamente positivo, quando Touro esteve por longo tempo num estado negativo, queixoso, tamásico.

Como, então, pode Touro conscientemente harmonizar-se com as qualidades positivas de Vulcano/Hefaístos? Como pode Touro evitar as explosões vulcânicas no mundo exterior que os desejos frustrados atraem? Em Symbols of the Transformation, CG Jung nos diz que Hefaístos é um Ancião Sábio arquetípico.

Como Inana, contudo, sua sabedoria originou-se através de um processo longo e doloroso, uma descida aos Infernos, período durante o qual livrou-se de grande parte de sua amargura, ressentimento e ódio. (E interessante que a deusa, o feminino, primeiro teve de entrar em contato com esses sentimentos - admitir que os tinha - ao passo que o deus masculino deleitava-se nessas emoções - refletiu sobre eles muito conscientemente - no começo da história.)

Hefaístos não teve uma infância feliz. Quando de seu nascimento, Hera, sua mãe, estava furiosa com Zeus, seu marido. Zeus havia gerado uma filha sem qualquer participação de Hera e, no caso, sem a participação de qualquer outra mulher. Atena havia saído da sua cabeça. Hera decidiu que se as mulheres não eram necessárias a Zeus, os homens também não seriam necessários a ela.

E gerou Hefaístos por partenogênese. Para sua consternação, entretanto, as coisas não correram como no caso da filha de Zeus, Atena. Hefaístos era um anão muito feio, com os pés deformados. Hera, horrorizada, jogou-o do Olimpo, e continuou sua vida normalmente. Hefaístos, no inferno, meditava.

Por que era ele um órfão quando todos os outros tinham pais, ou pelo menos um dos pais, que os amavam? Odiava Hera com todas as suas forças. Ele inicialmente procurou criar objetos úteis, e em seguida tentou fabricar objetos artísticos, mas estava bloqueado por suas próprias emoções negativas.

Sentia sua deformidade com tanta intensidade que não podia acreditar em seu talento, e os deuses nos infernos o evitavam tanto por sua disposição melancólica quanto por sua aparência física.

No mundo subterrâneo ele se tornou amigo de algumas mulheres, pois, o seu era um espírito feminino. Era filho de uma Mãe, assim como Atena era filha de um Pai. Ele pertencia ao inconsciente criativo. Por longo tempo, embora vivesse no subterrâneo criativo, ele não conseguia reconhecer a fonte da criatividade dentro de si, em sua própria alma.

Em seu estado sombrio e melancólico, começou a tramar vingança contra sua mãe. Ele faria com que ela sentisse o que significava ser abandonado. Talhou um trono para ela, e quando ela se sentou nele, cadeias a prenderam. Hera ficou aprisionada e suspensa no ar, numa espécie de balanço.

Hefaístos a deixou no limbo, nem acima nem abaixo, e totalmente sozinha. Isso lhe serviria de lição. A iniciativa, entretanto, apenas fez com que o anão se sentisse pior. Ele havia amarrado e suspendido no ar sua própria criatividade, o seu lado feminino.

Muitas pessoas com a Lua em Touro faz coisas semelhantes simplesmente por ressentimento obstinado - suspender o relacionamento com uma mulher (muito provavelmente outra pessoa criativa com quem eles poderiam descobrir muitas coisas em comum) devido a uma antiga ferida. Eles têm que esquecer-se de Hera e livrar-se de sua amargura, parar de incriminá-la pela inexistência da infância deles e prosseguir com o processo de ser um artesão adulto e de tornar-se um artista autêntico, como também um artífice.

Dioniso, numa de suas idas anuais aos infernos, teve compaixão de Hefaístos, a quem deve ter reconhecido como um espírito aparentado, uma outra alma feminina, artística, cuja inspiração teve origem na quietude do inconsciente. O compassivo Dioniso sabia que muitos deuses haviam tentado aproximar-se de Hefaístos pedindo o perdão para Hera, mas sem resultado.

Ele realmente era um caso difícil, mas Dioniso nunca perdeu as esperanças. Usando de artifícios, ele conduziria o ferreiro a um estado alterado de consciência, e então causaria nele uma mudança de coração. In vino veritas (no vinho está a verdade) era o mote de Dioniso. E se deu bem. Ele retirou o anão adormecido dos infernos e o levou ao Olimpo - às alturas da consciência - jogado no lombo de um humilde asno.

Ao despertar na Luz do Olimpo, Hefaístos sentiu-se muito melhor. Ele se sentiu livre de todas as suas emoções negativas e pleno da beatitude da taça sagrada de Dioniso. Soltou então as cadeias de Hera e imediatamente descobriu, para sua surpresa, que havia afrouxado também as amarras e obstáculos de sua própria criatividade.

Desse momento em diante, Hefaístos passou a produzir objetos artísticos maravilhosos que realmente pareciam vivos (arte imitando a vida), como o escudo de Aquiles, que Homero descreve minuciosamente na Ilíada. Ele também fabricou objetos de grande utilidade para deuses e deusas.

Murray Stein acha que Hefaístos apaixonou-se por Atena quando ela foi à procura de um de seus práticos objetos - uma nova lança - e que a deusa era sua alma gêmea. Ele era um deus de sentimento ou do tipo feminino, e ela uma deusa do tipo masculino, reflexivo.
Na opinião de Stein, eles teriam formado um casal equilibrado, se Atena não tivesse sido tão radicalmente arredia a Hefaístos. (Ela era indiferente com relação a todos.) Stein também pensa que Afrodite e Hefaístos não constituíam um casal equilibrado porque ambos eram almas femininas.

Em sua ascensão ao Olimpo para concluir seu processo de cura, Hefaístos também completou sua iniciação e ocupou seu lugar como um igual entre os deuses e deusas. Dos habitantes do Olimpo, apenas a vaidosa Afrodite não se impressionou com a transformação de Hefaístos.

Ela o olhou através de seu esnobismo estético e viu apenas o mesmo velho e deformado corpo, não uma bela alma. Talvez fosse para desencadear o desenvolvimento de Afrodite que Zeus arranjou o casamento deles, mas quem pode compreender a vontade dos deuses?

Talvez no final ela aprendesse a estimar a constância e dependência de Hefaístos, mas sua reação imediata foi ter um caso amoroso com o irmão de Hefaístos, Ares, o belo deus da guerra. Algumas fontes sustentam que o filho de Afrodite, Eros (Amor ou Cupido), teve como pai Hefaístos e não Hermes.

Segundo Stein, Hefaístos era "da Terra" e devido à sua ligação estreita com a Mãe Terra, seu lado feminino, ele era um "intuitivo natural". Depois de liberar todas as emoções "fixadas" - em astrologia diríamos "fixas" - ele começou a cuidar de sua forja de fogo interior com a devida atenção, e desse momento em diante nada havia que Hefaístos não pudesse modelar com toda beleza, quer fosse instrumento de utilidade ou objeto de arte.

Sua história apresenta muitos aspectos que correspondem à jornada da vida no meu cliente com Sol em Touro, Touro ascendente, ou Lua exaltada em Touro, que é um buscador e aspirante espiritual. Essas pessoas possuem nas forjas de suas próprias almas muito do talento de Hefaístos e também de sua luta interior, de sua teimosa recusa em livrar-se dos obstáculos externos e ir em frente.

Por ser Touro o primeiro dos signos fixos (Terra fixa ou matéria-prima), este pode ser um contexto adequado para refletir sobre os símbolos que remetem ao tema da fixidez, que é poder. O touro selvagem e o leão são dois animais terrestres que devem ser levados em conta.

O mesmo deve ser dito da águia. Nenhuma outra criatura pode superá-la no ar. O quarto signo fixo é simbolizado pelo homem iluminado, o Bodhisattva, ou o Messias, que também está sozinho em seu domínio. Os artistas usam esses símbolos de poder derivados dos signos fixos do zodíaco; sua presença na heráldica também é freqüente. 

Na Idade Média, Dioniso recebeu as formas do touro e do leão. Os quatro símbolos dos signos fixos podem também ser encontrados em vitrais que representam os quatro evangelistas.

Na zona temperada, começamos o ano astrológico com um signo cardeal, Áries, e a partir dele definimos nossos festivais e ritos sazonais para os outros pontos cardeais, os Solstícios e Equinócios. Mas fora da zona temperada, nas terras secas onde os signos fixos são os precursores da estação das monções e da fertilidade, os calendários e os festivais são estabelecidos para esses signos fixos.

No Iucatã dos maias, por exemplo, uma Efeméride de Vênus era usada para o calendário de rituais. A órbita de Vênus pode ter sido usada também para determinar o tempo da plantação e da colheita do milho, conforme especula Rodney Collin em The Theory of Celestial Influence.

Sabemos com certeza que, para os maias, o ano começava quando o aglomerado das Plêiades, situado na constelação do Touro, era visível à noite no firmamento. Quando as Plêiades se faziam visíveis, as chuvas estavam próximas. Plutarco nos diz que o mesmo acontecia com os gregos - isto é, que 27 dias depois do Equinócio da Primavera era celebrada a cerimônia do touro e tinha início o período de lavragem e semeadura.

Um antigo camafeu representando o touro com as três graças em seus chifres e as Plêiades como sete estrelas está em exposição no Museu Hermitage de Leningrado. (Jane Harrison, Epilegomera and Themis).

As Plêiades constituem um aglomerado místico no Egito, na índia, entre os maias e também na mitologia grega clássica. O poder das Plêiades de trazer as chuvas da primavera era um sinal externo, mundano, do seu poder espiritual. Como Alice Bailey afirma em Labours of Hercules, o poder de Touro e de Afrodite para atrair abundância vai além do domínio da substância física material.

Esse poder de atração está centrado em Alcíone, o Grande Sol Central da galáxia, localizado nas Plêiades. Alcíone exerce uma atração estável e contínua do nosso Sol e dos planetas que circulam ao seu redor. Para os antigos, a atração de Alcíone simbolizava a força do espírito de atrair a matéria; a atenção de Alcíone mantinha os mundos em suas posições, o Espírito atraía e animava a Matéria. Órion, o Caçador ou Buscador, também está localizado em Touro, assim como Aldebarã, o olho do touro.

A questão que se coloca é a do poder dos elementos - clima frio na zona temperada e tempo seco aliviado pelas chuvas no resto do mundo. O poder estava ligado às mudanças sazonais, o poder das forças da natureza. Assim, os poderes de fertilidade, robustez e resistência eram associados a Touro.

O vigor taurino é o vigor da própria Mãe Terra na qual as plantações eram semeadas na primavera para serem aguadas pelo Pai Céu. Essa resistência ou lealdade é, a qualidade mais característica de Touro - ela supera até mesmo a teimosia, a ganância ou o apego, os quais encontramos retratados em histórias que abordam o lado menos atrativo do regente mundano, Vênus, nome do qual derivamos a palavra "Venal" - como o legendário rei Midas, um verdadeiro caráter venal.

Touro/Escorpião têm em comum a resistência - os recursos interiores para perseverar a despeito de traumas ou vicissitudes temporários. As polaridades fixas têm auto-controle interior e também força física.

Touro e Escorpião estão historicamente associados à concentração ou foco unidirecionado. Para o iogue, o olho do touro ou o terceiro olho da meditação é o significado esotérico de Touro. Muitas vezes Buda é chamado de Touro, e a lenda assinala seu nascimento em Touro. Quando criança, na corte de seu pai, ele era mimado, mas não encontrou satisfação nas alegrias materiais de um mundo que oferecia apenas sofrimentos, doenças e morte.

Saiu então em busca da iluminação, e pela concentração liberou a força iogue interior. Buda sentou-se em sua Inamovível Sede sob a Árvore do Conhecimento até alcançar a iluminação. Se Touro pode ser complacente (Afrodite pode ser indolente no nível mundano), a inércia taurina ou a habilidade de sentar pode ser muito proveitosa para ele no caminho espiritual.

Enquanto um signo de Fogo em geral é muito irrequieto, um taurino pode sentar-se numa posição de relaxamento por longo tempo. Ele tem a perseverança e a lealdade para manter-se firme em seu caminho.

No budismo chinês, o boi representa a verdade em ação. Há dez etapas para a realização da natureza interior da pessoa - Os Dez Caminhos do Boi - desenhados artisticamente pelo mestre zen Kakuan, que escreveu no século XX sobre os valores verdadeiros, ou a qualidade verdadeira (Afrodite). Cada caminho foi ilustrado em gravura sobre madeira.

Interessantes são também as ilustrações de Mitra, o iniciado persa (do Mysteries of Mithra, de Franz Cumont). Depois de capturá-lo na floresta e ser por ele arrastado, Mitra monta no touro em pêlo e o subjuga numa caverna. Encontramos no mito de Mitra os dois níveis já discutidos - o mundano e o esotérico.

O mundano é a história comum do sacrifício do touro no tempo da primavera, realizado para que seu sangue fertilizasse o solo e a Mãe Terra produzisse uma nova colheita no ano seguinte. O nível esotérico refere-se à domesticação do touro enquanto domínio dos desejos e pensamentos à maneira do budista chinês.

O culto de Mitra era Solar por natureza, e não Lunar, mas incluía sete níveis de iniciações, das quais os dois mais importantes eram o touro e o leão. Cada iniciação e técnica esotérica implicava desnudar um dos sete corpos ou planetas conhecidos no tempo de Mitra. Os hinos se perderam, mas obras de arte descrevem as iniciações esotéricas.

Especialmente interessantes são as ilustrações que Cumont faz de Mitra montado no touro no centro da roda, com o zodíaco e seus símbolos em torno deles no círculo externo. Segundo Cumont, o iniciado buscava a Luz, ou a iluminação, enquanto o não-iniciado apenas via o símbolo do touro como parte de um ciclo anual de fertilidade.

Além do touro sacrificial com uma haste de trigo brotando da sua espinha, havia outro Touro Celestial imortal, que um dia deveria retornar com Mitra. Mitra era conhecido como o Juiz dos Mortos; uma águia, símbolo da morte ou das trevas, aparecia em seu ombro em algumas gravuras, juntamente com uma serpente a seus pés.

Se considerarmos Touro esotericamente, se pensarmos em sua receptividade à Luz Divina que é matéria-prima, nos poderes de concentração inerentes a esse signo tenaz ou fixo, na busca da iluminação - o terceiro olho ou o olho do touro -, na força da vida, no vigor, na lealdade e na perseverança de Touro, veremos que há muito a admirar.

Mas com a tendência venusiana à inércia, ou a tendência de um signo Terra a levar demasiadamente a sério este mundo transitório, há uma real necessidade de Touro integrar o lado obscuro, aquoso de Escorpião. Se Touro representa luz e vida - Vênus como a brilhante estrela da manhã adorada pelos maias, como a fertilidade da primavera -, então o Escorpião outonal representa as trevas e a morte, seguidas pela experiência do renascimento da Oitava Casa.

Talvez seja esta a razão por que, em muitas culturas, o touro era sacrificado e renascia trazendo prosperidade para a terra e para o povo. Ele servia para lembrar que nada é permanente; a primavera é seguida pelo outono, a juventude pela velhice, a morte pelo renascimento ou imortalidade.

Se concebermos as casas dois até oito como um eixo de valores, então para que Touro encontre sua paz e alegria ou a bem-aventurança dos dez touros, parece que ele precisa primeiro morrer para os desejos pessoais (Segunda Casa) e renascer com um sistema de valores mais iluminados na Oitava Casa (valores dos outros).

Afrodite, como planeta do valor e buscador da qualidade, aparece muito subjetiva e pessoal em Touro. Falta-lhe a objetividade que possui como regente da aérea Libra. No nível mundano, muitos nascidos em Touro tentam superar essa subjetividade e transcender o desejo, como fez Buda, por um tipo de renúncia.

Muitas vezes eles não estão conscientes de que é isso que estão fazendo quando dizem coisas como "Posso desenvolver meus talentos criativos mais tarde; agora preciso prover uma vida de qualidade para minha esposa e filhos (os outros)." Ou "Gostaria de continuar minha carreira de cantora mas meus filhos precisam de mim em casa. Talvez... quando estiverem no 2o Grau..."

Outros seguem o caminho da renúncia consciente, abandonando a segurança do trabalho, como Buda fez com seu reino terrestre, para buscar a verdade, para voltar à escola e estudar filosofia, ou para viajar ao estrangeiro, vivendo em desconforto físico em hotéis baratos, à procura nem sabem de qual verdade.

Como o do taurino que se sacrifica pela esposa e pelos filhos, este é um movimento em direção aos valores dos outros (8ª casa) às custas do conforto e do desejo pessoal - mas aqui o ensinamento representa os valores dos outros, os "valores dos patriarcas".

Tendo adquirido tarde na vida uma perspectiva ou a objetividade, o taurino pode retornar para satisfazer suas fortes emoções e sua natureza de desejo, seu regente mundano - a terrena e ardente Afrodite. Sendo a primeira metade da vida é vida para ou através dos valores ou filosofias dos outros e a segunda metade volta-se para o romance e para a busca pessoal da felicidade terrena.

Na maioria das vezes, Touro está relacionado com a frase-chave EU TENHO. Mas as palavras-chave EU CONSTRUO também são importantes porque Touro harmonizado com Vulcano/Hefaístos, é muitas vezes um construtor. Vulcano, o modelador ou ferramenteiro dos deuses, trabalha com empenho no interior dos taurinos e não se sente satisfeito se algum tipo de projeto criativo não está em andamento.

Em Touro, temos o construtor de uma companhia que se harmoniza esotericamente, aposenta-se cedo e utiliza seu tempo em atividades humanitárias. Muitos taurinos esotéricos conhecidos meus sacrificaram-se financeiramente, "montaram o boi", ou sublimaram desejos pessoais com a finalidade de montar estruturas como centros holísticos de cura ou asilos para crianças abandonadas em comunidades espirituais tanto rurais quanto urbanas, onde os buscadores podem viver e aprender com pessoas que compartilham as mesmas idéias.

Diferentemente da energia taurina mundana, que constrói para si mesma ou para os próprios filhos e apega-se como uma miserável à sua riqueza, esses taurinos esotéricos encontraram uma real alegria. Parece também que encontraram a pomba branca da paz de Afrodite.

A paz é ilusória se Vulcano não trabalha construtivamente com suas ferramentas, sejam essas ferramentas artísticas, artesanais, financeiras, sejam de meditação. O Hatha Ioga é a ferramenta favorita de muitos taurinos para montar o boi - controlar o corpo.

O Zen e outras técnicas, como o pranayama, são ferramentas muito úteis para controlar a mente e as emoções. Pelo uso de suas ferramentas, Touro se harmoniza conscientemente com Vulcano e coopera com seu regente esotérico, tornando menos provável a possibilidade de ser ferido com o martelo de Vulcano nos trânsitos mais difíceis dos planetas transaturninos.

Um Touro que monta um touro com sucesso alcança um estado de bem-aventurança em que "nada pode perturbá-lo; ele não precisa mais dos patriarcas, move-se entre os homens e é veículo para a iluminação deles". Um Buda moderno. Esta parece ser a mensagem do culto de Mitra na Pérsia, do Caminho do Boi do mestre zen chinês, e, mais do que provável, dos que montavam o boi em Creta reproduzidos nos afrescos.

O boi Ápis, com sua morte e renascimento sacrificial de cada ano simbolizando a fertilidade da primavera e a morte da Terra no outono e inverno, parece ter muito a ver com a integração alquímica das Casas Dois e Oito. 

Parece que temos aqui a Segunda Casa, como substância, ou Matéria-Prima (prima matéria), perdendo sua estrutura, experienciando o caos ou convulsão, e depois de uma sensação de perda - trevas, depressão ou morte interior - renascendo na Oitava Casa depois da solitude e dormência do final do outono em Escorpião, quando a Fênix se eleva de suas cinzas.

O boi Ápis não é símbolo apenas da primavera e da vida taurina, mas a águia em seu ombro nos lembra o outono, Escorpião, a morte e o renascimento.

Jung, num estudo sobre a alquimia da integração dos opostos, refere-se à Matéria-Prima e à Fênix, à Luz e às Trevas, à Vida e à Morte; e não podemos deixar de pensar no zodíaco natural - na integração da esperança da primavera, exuberante de vida e fecundidade, com a estação depressiva do outono, o estéril e inerte Escorpião.

Recomendo muito às pessoas interessadas que leiam, as Obras Escolhidas de Jung, Alchemical Studies, e reflitam sobre a ilustração do frontispício reproduzida de um manuscrito alquímico alemão. É um dragão escorpiônico com várias cabeças, incluindo a cabeça-Sol e a cabeça-Lua.

O casamento do Sol e da Lua, do Masculino ê do Feminino, da Luz e das Trevas dentro de todos nós era associado a Touro nos escritos alquímicos - Touro, onde a Lua e Vênus têm bom relacionamento. A exaltação da Lua em Touro não é mencionada especificamente por Jung, mas ele afirma que "Diana é a noiva" no matrimônio do Masculino e do Feminino, que acontece em Touro no delicado tempo da Lua Nova.

O frontispício diz que o glifo de Vênus (R) e da Lua (W) se combinam para formar o glifo de Mercúrio (E), regente da alquimia. Assim, Mercúrio, o esquivo guia alquímico que conduz o buscador medieval ao segredo da pedra filosofal da transformação interior - à transformação da natureza humana inferior em ouro -, aparece na lua nova em Touro.

Nos Alchemical Studies, Jung afirma que a integração das Trevas com a Luz é difícil - que os dois realmente se distanciam um do outro. É difícil para a luz brilhar nas trevas, é difícil o inconsciente (Casa Oito, ou Escorpião) tornar-se consciente. 

O astrólogo chama essa resistência de fixidez, porque nesse eixo lidamos com dois signos fixos ou casas fixas.

Ainda assim, a receptividade de Touro, seu lado duplamente feminino, dá a Escorpião uma abertura que outros signos, ou outras estações do ano, podem não ter. Escorpião é ainda um signo receptivo no mesmo sentido em que a Água é receptiva. 

Escorpião tem associações fúnebres - o ataúde de Osíris, as múmias, a morte - mas tem também a Fênix.

Se a matéria-prima taurina pode passar por mudança ou transformação, então a energia da primavera, que é Touro, não mais precisa ficar enraizada no solo (Terra), mas pode voar como uma Fênix e ser livre. Em geral é difícil Touro perceber o lado obscuro, instintivo, de Escorpião - o inconsciente.

Se Touro impõe sobre Escorpião o que este não está pronto a suportar, Escorpião provavelmente fará Touro passar por traumas ou irrupções, mostrando assim a Touro sua própria sombra. Touro pode reagir integrando a intuição e agradecendo Escorpião ou afastando-se e concluindo que os Escorpiões são pessoas sarcásticas, desagradáveis, que devem ser evitadas.

Pela integração de parte das trevas de sua polaridade Escorpião inconsciente, Touro pode aprender a desenvolver asas como a Fênix, deixar sua insegurança e voar como o touro alado da arte assíria.

Como Touro se opõe a Escorpião, assim Afrodite se opõe a Marte, o regente de Escorpião. Temos Ariadne no mito do Minotauro, um tanto esnobe em termos sociais ou culturais, às vezes percebendo Marte como demasiadamente grosseiro ou físico.

Aqui novamente me lembro da amável Afrodite sendo forçada a contrair matrimônio com Hefaístos, o aparentemente feio anão. Ela foi forçada a enfrentar seu próprio ponto de vista, superficial, de que a beleza tem a profundidade da pele.

Na leitura de mapas, encontrei Afrodite, a elegante, com raiva de seu companheiro, que tem planetas em Escorpião, porque ele não está disposto a ir a uma festa. "Por que ele precisa de toda essa solidão?", ela se pergunta.

Todavia, Touro pode aprender da coragem silenciosa de Escorpião. Afrodite pode aprender de Marte a correr riscos - permitir que Vulcano continue a forjar. Marte pode ensiná-la a aceitar a mudança e a sexualidade - a permitir que sua própria energia primaveril seja liberada.

Ambos, Escorpião e Touro, são intuitivos e possuidores de uma vontade forte. Cada um tem muito a aprender do outro se ambos puderem ir além da resistência pertinaz da fixidez. Um touro esotérico, espiritual, é aberto e receptivo a Deus. O mito do Minotauro trata da questão da receptividade. No mito, Minos é teimoso e fechado a Netuno (Deus).

A ambição e apego de Minos por um touro "digno de pertencer a um deus" fez com que ele trouxesse desgraça a toda a sua linhagem. Minos vive no mundo dos sentidos (Afrodite inferior), excluindo tudo o mais. Ele nos lembra os taurinos que conhecemos que estão sempre perguntando, "O que vamos comer hoje?" "Onde vamos fazer compras hoje?" "O que poderíamos fazer para passar o tempo?" Eles dão a impressão de nunca refletirem sobre as questões esotéricas de Afrodite: "Onde posso encontrar um valor permanente?" "Qual é o sentido da vida?"
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